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Opinião

Nelson, como previa a coluna, choca porque nada mudou

LUIZ FELIPE PONDÉ
COLUNISTA DA FOLHA

Quando usei a imagem da prostituta como a primeira ou mais sublime vocação da mulher, estava citando Nelson Rodrigues, não literalmente, mas diretamente.

A fonte era sua coluna do dia 5 de maio de 1967, no "Correio da Manhã". Mas não disse a ninguém, e fiz isso de propósito. Tinha uma intenção quase científica, e provei minha hipótese. Mas antes, aos fatos.

Lá ele fala de como as atrizes, as mulheres fiéis, as boas mães, gritavam: "Quero fazer a prostituta, quero fazer a prostituta!".

Sua heroína de "Vestido de Noiva", Alaíde, morrendo, sonha em ser a prostituta Clessy, para viver "seu momento de prostituta". E as mulheres na plateia ficavam tensas de sonho quando o mito da prostituta se irradiava pelo palco.

Afinal, a prostituta seria a mais antiga das vocações, e não das profissões, e, por isso, a heroína sofria da nostalgia da prostituta.

Por que esse horror da prostituta como um dos arquétipos da mulher?

Qual mulher que gosta de sexo que nunca vestiu a "fantasia da sua prostituta" para gozar o gozo da promíscua que, por ser promíscua, é a especialista em enlouquecer os homens?

Só os infelizes desconhecem este gozo. Mas, infelizmente, os infelizes são sempre a maioria, ontem, hoje e sempre.

A emancipação feminina e a revolução sexual são uma mentira sobre o sexo. E o infeliz é nada mais que um mentiroso contumaz.

Nos anos 1960 era, talvez, normal se chocar com isso, mas hoje? Onde ficou o tal avanço em costumes?

Onde estão os inteligentinhos que desfilam em seus jantares discursos de como não têm preconceitos?

Está aí minha hipótese provada: Nelson continua a chocar porque nada mudou. Do puritanismo religioso, passamos ao puritanismo secular. Sem Deus, mas ainda mentindo sobre nossos demônios.

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