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Filme tenta juntar demência juvenil e realismo iraniano

"Projeto X", estreia de filho de refugiado, usa estética de vídeo caseiro em festa teen

Antes do cinema, Nima Nourizadeh dirigiu clipes de Lily Allen e Hot Chip; filme faturou US$ 40 mi em dez dias

DE SÃO PAULO

O cinema iraniano é rico em dramas sociais, filmes de alma complexa e sofrimento. Era de se esperar que as características fossem herdadas por Nima Nourizadeh, cineasta britânico filho de um refugiado político iraniano expulso do país quando o aiatolá Khomeini assumiu o poder, em 1979.

No entanto, "Projeto X", estreia de Nourizadeh, é uma sequência de demências juvenis que vão de cães pendurados em balões de gás e nudez de garotas na piscina a uma festa de causar inveja a Ronaldinho Gaúcho.

"Tenho uma cabeça de 16 anos", conta o diretor de 37 anos, famoso por assinar vídeos da banda Hot Chip ("Over and Over") e da cantora Lily Allen ("LDN").

"Queria, desde cedo, um ofício que juntasse cinema e música. Comecei trabalhando com bandas menores e depois conheci mais grupos. Uma coisa levou à outra."

Da escola iraniana, sobrou apenas a vocação realista. "Projeto X", sobre três adolescentes armando a maior festa que a Califórnia já viu, é todo filmado no estilo "vídeo caseiro", como é moda em reality shows de sucesso como "Jersey Shore".

"Filmar assim foi a parte mais empolgante, porque a garotada está acostumada com esse tipo de imagem", diz. "Hoje, qualquer um pode fazer um filme com celulares e câmeras portáteis."

Foi o que aconteceu durante a Primavera Árabe, série de protestos que abalou a política no Oriente Médio e na África nos dois últimos anos.

Internautas postaram vídeos de seus celulares sobre os levantes civis egípcios, sírios e líbios, ajudando o mundo a ter uma noção de uma realidade muitas vezes censurada por governos autoritários.

"É o sinal dos tempos", diz o diretor. "Um garoto da Síria pode fazer o upload de um vídeo gravado do celular e mudar o mundo. Antigamente, você nunca teria acesso a esse tipo de material."

É o tipo de assunto que interessa mais ao pai de Nima, o professor Alireza Nourizadeh, uma das vozes mais ativas contra o regime fechado do Irã. Mas até ele se rendeu à comédia juvenil do filho.

"Meus pais acham que 'Projeto X' serve como aviso para os adultos", revela o cineasta. "Eles têm uma cabeça aberta e só disseram que estão orgulhosos de mim."

Depois de o longa render US$ 40 milhões (US$ 28 milhões a mais do que seu custo) em dez dias nos EUA, o orgulho familiar é apenas o começo da carreira do inglês.

(RODRIGO SALEM)

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