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Astro pornô atrai adolescentes nos EUA

Sucesso inesperado pode levar James Deen, 26, a protagonizar filme de Paul Schrader escrito por Bret Easton Ellis

Definido por agente como 'Tom Cruise do pornô', ele diz que atuar na indústria do sexo é o que ele sempre quis

EDWARD HELMORE
DO “GUARDIAN”

Há pouco, o escritor Bret Easton Ellis (de "American Psycho") anunciou o desejo de chamar um ator pornô para o papel central de "The Canyons", filme "noir" a ser dirigido por Paul Schrader (roteirista de "Taxi Driver").

Não é de hoje que Ellis é admirador de James Deen, famoso pela atração que exerce sobre mulheres jovens, que não são as maiores consumidoras de pornografia.

Quando os dois se conheceram, sentiram que tinham algo em comum pelo fato de serem ícones improváveis. "Ele pediu uma salada e conversamos amigavelmente sobre a histeria feminina não merecida da qual fomos alvos em certos momentos de nossas carreiras", Ellis tuitou.

Deen, 26, esteve recentemente no programa "Nightline", da ABC, num segmento que perguntava se a nação sabe que suas filhas o andam vendo como "príncipe encantado" em suas fantasias.

A aparição foi mais uma prova de que o "mainstream" está mais disposto a aceitar artistas do entretenimento adulto em sua seara. Ou de que o entretenimento adulto está mais "mainstream".

"Ele é exatamente o cara que eu imaginava", diz Ellis. "Não é um homem das cavernas, é um garoto bonitinho que poderia ter sido seu colega de faculdade."

Do outro lado das colinas de Hollywood, no vale de San Fernando, sede da indústria da pornografia americana, Deen avalia o papel que pode levá-lo a se tornar astro do cinema convencional.

Ele não está convencido. O pornô é trabalho regular e que paga bem, apesar de os cachês terem sofrido cortes desde o colapso do mercado de DVDs.

A maioria em Hollywood vê o pornô como modo de sair de uma carreira como ator, não de ingressar nela.

Talvez Deen (que não divulga seu nome real, mas diz que é um garoto judeu da Califórnia) seja representativo de um novo fenômeno no entretenimento. Na televisão e na internet, barreiras sexuais parecem estar caindo. Mas um astro do pornô no "mainstream" de Hollywood?

"É inteiramente possível", opina o agente britânico Derek Hay. Outros profissionais negam. Dizem que nunca ninguém fez essa passagem com êxito, embora várias mulheres tenham tentado.

Hay acha que os produtores de "The Canyons" fazem bem em tirar proveito da base de fãs mulheres de Deen, primeiro astro pornô com a aparência respeitável e correta do galã romântico -um Tom Cruise do pornô.

James Deen está comprometido com a causa da pornografia. Ele planejou desde cedo trabalhar nesse ramo.

Alguns atores pornôs continuam a trabalhar até a casa dos 50 anos, outros desistem aos 30, mas Deen não tem planos de se aposentar: "Eu gostaria de continuar enquanto for possível".

Ele não apenas atua como também produz e dirige -em alguns casos, a si mesmo. O dinheiro que ganha guarda no banco. "Sou um sujeito convencional. Não frequento festas, não fico bêbado, não uso cocaína. Sou normal -até certo ponto."

Independentemente do projeto de Ellis e Schrader, Deen é cauteloso: não quer ser acusado de cortejar suas fãs jovens. "Não sou predador da juventude americana e não estou tentando cativar esse público. Logo, não acho que deva ser responsabilizado", protesta. "Simplesmente há qualidades minhas que atraem um público teen."

Toda a publicidade parece ter suscitado nele o desejo de defender o seu nicho. Seu ceticismo se iguala ao dos críticos mais intransigentes.

"As pessoas talvez digam: 'Ele tem carisma e se sai bem na tela'. Mas isso é diferente de dizer 'vamos colocá-lo em filmes do 'mainstream' e numa campanha da Gucci, para vender mais produtos, porque sexo vende bem e as pessoas apreciam polêmicas'."

"Não quero ser 'aquele ator pornô'", pondera. "Faço o que sempre quis fazer. Bret Easton Ellis é a única razão para estar em 'The Canyons'. Se fosse com Spielberg, não faria. Eu diria: 'Quanto você vai me pagar? Porque vou ter que me esforçar mais. E não poderei transar no trabalho.'"

Tradução de CLARA ALLAIN.

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