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Brasileiro "perde inocência" em Hollywood

Heitor Dhalia diz que era impedido de ensaiar com atores e comandar set de "12 Horas"

DE SÃO PAULO

Diretores que renegam seus filmes não chegam a ser uma novidade em Hollywood. Existe até um pseudônimo (Alan Smithee) que os cineastas norte-americanos utilizam quando não estão satisfeitos com o produto final.

O pernambucano Heitor Dhalia poderia ter feito o mesmo em "12 Horas", sua estreia no mercado americano.

Contratado pelo produtor linha-dura Tom Rosenberg, que já fez "Menina de Ouro" (2004), de Clint Eastwood, mas que hoje se dedica a filmes de baixo orçamento e retorno fácil como "Adrenalina" (2006), Dhalia esteve sob o jugo de uma ditadura criativa durante as filmagens.

"Quando entreguei uma lista de 30 diretores de fotografia e ele me veio com dois nomes, e nenhum que eu havia citado, vi que tinha me fodido", diz o cineasta. "Eu sabia onde estava me metendo quando fui trabalhar em Hollywood, mas não sabia a quantidade de restrições que enfrentaria nas filmagens."

O brasileiro não podia nem ensaiar com o elenco. "Era proibido. E, se eu pedisse um encontro com a Amanda [Seyfried, protagonista do thriller], eram quatro produtores acompanhando tudo."

"12 Horas" é um típico caso de suspense rasteiro hollywoodiano sobre uma garota que tenta encontrar sozinha o sequestrador de sua irmã, que também a teria raptado no passado.

Foi um fracasso de renda nos Estados Unidos, faturando US$ 11 milhões (cerca de R$ 20 milhões), mas o produtor não arrancou os cabelos por causa disso. "12 Horas" já estava pago quando saiu.

"Venderam para o mercado internacional antes mesmo de o filme estar pronto, por US$ 12 milhões", revela Dhalia.

COVARDIA

A segurança do baixo orçamento -cerca de US$ 15 milhões (R$ 27 milhões)- e o mercado aquecido fora da América do Norte geraram um produto estranho.

"Quando lançaram o filme nos Estados Unidos, não mostraram para a crítica. Não dei entrevistas para divulgar. Foram covardes", conta.

Sem poder comandar criativamente o longa, Heitor Dhalia pensou várias vezes em abandonar as filmagens.

Mas fincou o pé. "Não consigo imaginar uma situação mais hostil de trabalho, mas tudo o que não mata fortalece. Serviu para eu perder a inocência", revela o diretor.

"O filme não é meu. É do produtor. Fui apenas um matador de aluguel." E depois desse assassinato, ele parte para filmar "Serra Pelada". "Guardei toda a minha criatividade para esse projeto."

(RODRIGO SALEM)

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