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"Bichado" encerra trilogia de diretor sobre a guerra

Zé Henrique de Paula encena peça que tem o conflito no Golfo como pano de fundo

Texto do premiado autor norte-americano Tracy Letts narra paranoia e destruição mútua de um casal

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Bichado", espetáculo do norte-americano Tracy Letts que está em cartaz na nova sede do Núcleo Experimental, sob direção de Zé Henrique de Paula, apresenta a união e o aniquilamento de dois seres igualmente solitários e maltratados pela vida.

Quando a garçonete Agnes White e o soldado desertor da Guerra do Golfo Peter Evans iniciam um relacionamento amoroso, a rotina de desalentos parece dar uma trégua. Mas não demora para que uma suposta invasão de insetos coloque tudo a perder.

No quarto de motel onde Agnes vive, o embate de Peter com voadores é em princípio de ordem prosaica. Aos poucos, os bichos se multiplicam, tornando-se uma ameaça verdadeira -pelo menos na imaginação do personagem.

Peter desenvolve uma crescente paranoia. Está certo de que insetos foram enxertados em sua pele. Acredita ser vítima de experimentos secretos realizados em militares a pedido do governo americano.

A insanidade de Peter se alastra por esta tragicomédia e não tardará a contaminar a mente de Agnes.

"A garçonete passa a ver os bichos, mas fica a dúvida sobre a real capacidade que ela tem de enxergá-los. Será que não diz isso para ser aceita, amada?", indaga Zé Henrique de Paula.

Em um diálogo que trava com o namorado, Agnes chega a admitir a possibilidade de imaginar voadores como forma de aplacar a solidão: "Acho que eu prefiro falar sobre insetos com você a falar sobre nada com ninguém".

A personagem carrega a grande dor de ter um filho desaparecido. Sua vida parece se resumir a um encadeamento de perdas. A carência imensa que nutre é o elo com Peter.

"O que mais me chamou a atenção nesta peça de diálogos rápidos e afiados foi o encontro entre estes dois seres machucados pela vida. Eles se reconhecem, se complementam e depois se destroem", descreve o diretor.

Escrito por Tracy Letts, autor inédito no país, vencedor dos prêmios Pulitzer e Tony (por "Agosto: Condado de Osage", 2008), "Bichado" encerra a "trilogia da guerra" idealizada pelo encenador, composta também por "As Troianas", adaptação da obra de Eurípedes, e "Casa / Cabul", de Tony Kushner.

São três pontos de vistas distintos sobre o tema da guerra, aos quais Zé Henrique acrescenta seu olhar de encenador. "'Bichado' oferece o contraponto que precisávamos para falar dos efeitos da guerra na vida de pessoas comuns", acredita ele.

Ao abordar a vigilância dos organismos de poder na vida privada, o espetáculo também evoca "O Contrato", texto do inglês Mike Bartlett montado pelo encenador no ano passado.

BICHADO
QUANDO sex., sáb. e seg., às 21h; dom., às 19h; até 21/5
ONDE Núcleo Experimental (r. Barra Funda, 367, tel.0/xx/11/3259-0898)
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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