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Segunda metade de 'Logos' abre lugar para improviso

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Uma fratura no pulso direito (o que tange o arco) tirou Dimos Goudaroulis do teatro Alfa na estreia de "Logos-Diálogos", projeto que busca analogias entre dança contemporânea e as seis suítes para violoncelo de Bach.

Operado, o músico de origem grega passa bem e deve voltar a tocar em um mês.

Foi, portanto, com o som de sua gravação -e a simbólica presença de seu instrumento no palco- que apreciamos, na semana passada, a primeira parte das trilogia de suítes dançadas.

Hoje e amanhã será do mesmo modo com as suítes nº 4, nº 5 e nº 6, coreografadas, respectivamente, por Tíndaro Silvano, Ismael Ivo e Deborah Colker.

A segunda trilogia abre com um prelúdio ("Suíte nº 4") que, até chegar em sua metade, insiste na repetição de um motivo descendente. Goudaroulis ressalta a divisão e imprime forte caráter de improviso ao trecho final.

O trecho fecha com a giga da "Suíte nº 6", cuja luminosidade não vem apenas da tonalidade (ré maior), mas também do uso pelo músico de um violoncelo "piccolo" de cinco cordas.

Entre as duas, bem no meio do espetáculo, ouviremos a escura sarabanda da "Suíte nº5", que o cineasta Ingmar Bergman utilizou em seu derradeira filme, "Sarabande", lançado em 2003.

O Bach livre no tempo de Dimos traz dificuldades para a dança: ele parece recitar um monólogo interior, solitário como o canto das cigarras e abrupto como o silêncio das ruínas de um antigo templo.

Para o filósofo Heidegger, "logos" é o "o recolhimento que torna presente e manifesto tudo o que é em sua totalidade". O "logos" tudo analoga e é capaz de tornar presente até mesmo a ausência do gesto sonoro.

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