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Crítica musical Versão teatral de "Priscilla" tem elenco e direção capengas ALCINO LEITE NETOARTICULISTA DA FOLHA Travestis são velhos personagens do cinema: em 1914, Chaplin fez um "cross-dresser" em "A Busy Day". Depois houve "Viktor und Viktoria" (1933), de Reinhold Schünzel (recriado por Blake Edwards em 1982), "Quanto Mais Quente Melhor" (1959), de Billy Wilder, e "Tootsie" (1982), de Sidney Pollack, para citar os mais famosos. A novidade de "As Aventuras de Priscilla, Rainha do Deserto" (1994), de Stephan Elliott, não foi tratar do travestismo. Foi ser um filme integralmente gay, que, graças ao humor, à derrisão e à graça carnavalesca dos personagens, conquistou o "mainstream". O musical "Priscilla, Rainha do Deserto" segue o mesmo enredo: num ônibus muito bandeiroso, uma drag queen atravessa a Austrália com duas "amigas", a fim de reencontrar o filho que gerou no seu (breve) passado hétero. O espetáculo deixa muito a desejar. É impossível reproduzir no palco o contraste chocante que o filme estabelece entre a paisagem desértica australiana e a extravagância pop dos personagens. O musical também não consegue transferir para o teatro a estranha dinâmica daquele "road movie" gay, feita de um misto de tempos mortos e tempos histéricos. A adaptação transformou o musical em esquetes que se encadeiam com dificuldade. A precariedade dos números musicais (e de dança), aceitável no filme como elemento "camp", nos palcos vira um defeito indigesto. O público brasileiro, porém, adora o espetáculo. Por razões insondáveis, esta "comédia-commodity" provoca tanta empatia e euforia que todo mundo absolve tudo o que há nela de precário e aplaude de pé os bailarinos sem brilho, os atores que desafinam e tropeçam no inglês das canções e a direção capenga e burocrática.
PRISCILLA, RAINHA DO DESERTO - O MUSICAL |
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