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Coleção sonda distopias de José Saramago

Em "Ensaio sobre a Lucidez", que chega às bancas em 20/5, português faz crítica mordaz às instituições políticas

Obra é o sétimo título de seleção que reúne 25 livros de renomados romancistas e poetas de origem ibero-americana

DE SÃO PAULO

Em um país qualquer, em um dia chuvoso, poucos eleitores comparecem para votar durante a manhã. As autoridades eleitorais, preocupadas, chegam a prever uma abstenção em massa.

À tarde, porém, quase no encerramento da votação, milhares de eleitores formam filas, mas para votar em branco, manifestando sua indignação de forma direta.

A cena faz parte de "Ensaio sobre a Lucidez", romance do escritor português José Saramago (1922-2010) e sétimo volume da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana, que chega às bancas no dia 20/5.

É desse "corte de energia cívica" que trata a obra, escrita em 2004, e que não apenas no título remete ao seu "Ensaio sobre a Cegueira", de 1995. A política aqui se apresenta tal como a epidemia que se abate sobre os personagens daquele livro.

Ao narrar as providências de governo, polícia e imprensa para entender as razões da "epidemia branca", o autor faz uma alegoria da fragilidade dos rituais democráticos, da política e das instituições.

Saramago, entretanto, não propõe a substituição da democracia por um sistema alternativo, mas o seu permanente questionamento.

É pela via da ficção que o português entrevê uma saída para esse impasse. E é a potência simbólica da literatura -território em que reflexão, humor, arte e política se confundem- que se revela capaz de vencer a mediocridade, a ignorância e o medo.

Em sua obra, o escritor luso buscou desenvolver uma crítica mordaz às instituições: sob o véu da democracia, enxergava os vetores da natureza autoritária -lúcido é, na verdade, quem os percebe.

Nascido em uma região pobre e rural portuguesa, Saramago talvez tenha na vida seu melhor romance. Seria em Lisboa que o futuro Prêmio Nobel da Literatura se tornaria "operário da escrita", como tradutor, jornalista e romancista profissional.

Com uma linguagem solene, na qual o narrador assume a objetividade distante de um relator oficial, Saramago combinou a força da linguagem oral com recursos estilísticos de traços barrocos.

O resultado é uma obra irônica e moralista em que a humanidade é dissecada pela pena sarcástica do autor, disposto a mostrar a falta de lucidez e a crueldade dos homens e de suas utopias.

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