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Crítica Drama Kore-eda capta perda na infância a partir de separação de irmãos Encadeamento aparentemente aleatório da trama espelha situações imaginadas por crianças para vencer a distância CÁSSIO STARLING CARLOSCÁSSIO STARLING CARLOS Com "Maborosi" (1995) e "Depois da Vida" (1998), Hirokazu Kore-eda ganhou lugar no repertório da cinefilia com suas parábolas sobre a vida e a morte resgatadas das abstrações metafísicas e reinstaladas no cotidiano. "O que Eu Mais Desejo" oferece um encanto de outro tipo, mas não menos potente, ao retomar o tema da perda vivida na infância, situação que o japonês explorou de um ângulo dramático em "Ninguém Pode Saber" (2004). Em vez de morte, a separação dos pais impõe a distância entre os irmãos Koichi e Ryunosuke. Koichi passa a viver com a mãe e os avós numa cidade dominada pela imponência de um vulcão ativo. Ryunosuke fica com o pai, cujo comportamento não se enquadra em padrões sociais. A vocação documental onipresente na obra de Kore-eda capta as nuances dos dois universos afetivos por meio das projeções e insatisfações vividas pelas crianças, sem negar as qualidades poéticas. Observar a preparação de um doce, por exemplo, pode tanto significar o registro de uma tradição como sugerir a imaterialidade de um sabor. A organização em elipses distingue o filme da estrutura progressiva tradicional. Por vezes, sentimos ter perdido o fio, estar soltos num devaneio. Com esses distúrbios, Kore-eda nos instala numa experiência mais marcada por ritmos e velocidades do que por conflitos e soluções. Essas escolhas permitem que a aparência aleatória da história conecte-se e expanda-se com o movimento com que os personagens infantis concebem o fim do isolamento imposto pelos adultos. A partir do momento em que a força da imaginação se sobrepõe à dos fatos, a inarticulação ganha sentido. Daí em diante, até o triunfo da técnica escapa do mundo da razão para entrar no reino dos assombros. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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