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Crítica infanto-juvenil Clássico mantém capacidade de o leitor se maravilhar com mistérios do Universo Reler as obras da maneira como foram concebidas é fundamental para entender o papel de Verne BRAULIO TAVARESESPECIAL PARA A FOLHA A nova edição, pela Zahar, de "20 Mil Léguas Submarinas" talvez não seja a primeira versão integral da obra no Brasil, mas provavelmente é a mais completa e a mais fiel ao original. A começar pelo nome do autor, grafado aqui Jules Verne, como aos poucos vem sendo adotado no Brasil. Esta edição tem tradução e mais de 200 notas explicativas de André Telles e introdução de Rodrigo Lacerda, além de um glossário de termos náuticos, cronologia da vida do autor e algumas ilustrações extraídas da edição francesa de 1871. Em geral, Verne é lido pela primeira vez na infância, em edições condensadas (ou simplesmente mutiladas) que preservam apenas o encanto da história extraordinária, contada de forma aventurosa e envolvente. Convém reler essas obras do modo como foram concebidas e publicadas em seu mundo de origem, para que se possa entender o verdadeiro papel que o autor desempenhou em seu tempo. A literatura de Jules Verne (1828-1905) é uma consequência tardia, porém oportuna, do enciclopedismo francês do século anterior, a tentativa de descrever racionalmente o mundo físico e estabelecer as regras de seu funcionamento. Suas "Viagens Extraordinárias" tiveram na língua inglesa a contrapartida do "Scientific Romance" de H. G. Wells e outros, e resultaram na ficção científica do século 20. "20 Mil Léguas..." pertence ao realismo futurista dentro da ficção científica- histórias que, apesar de extraordinárias, não são fantásticas. Nada ocorre nelas que pareça violar as leis materiais, conforme a ciência de hoje as interpreta. Verne tentava ser escrupulosamente realista, mesmo quando imaginava, como é o caso aqui, façanhas impossíveis em sua época. Era um "impossível tecnológico", mas que não violava o conhecimento científico. Em sua introdução, Rodrigo Lacerda analisa o dilema literário de Verne, de como tornar interessante essa leitura atulhada de informações históricas, geográficas, zoológicas etc. O leitor ideal de Verne é o que é capaz de se maravilhar, como seus personagens, com os mil fenômenos do universo físico. A edição ideal de seus livros, num futuro próximo, talvez seja sob forma de hipertexto eletrônico, em que cada leitor poderá optar, a um simples clique, pela leitura do enredo aventuroso ou pela leitura completa, reunindo a narrativa e a ciência. BRAULIO TAVARES é escritor e compositor. Escreve no blog Mundo Fantasmo (mundofantasmo.blogspot.com)
20 MIL LÉGUAS SUBMARINAS |
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