Texto Anterior
|
Próximo Texto
| Índice | Comunicar Erros
Crítica Drama Zhang Yimou erra na dose ao espetacularizar a violência RICARDO CALILCRÍTICO DA FOLHA OS EVENTOS NARRADOS SÃO TÃO DESUMANOS QUE UM TRATAMENTO DISCRETO JÁ DARIA A MEDIDA DA BARBÁRIE Em 1937, o Exército japonês invadiu Nanquim, então capital da República da China, matou 200 mil pessoas e cometeu inúmeros crimes de guerra, como saques, estupros e execução de civis -em um episódio conhecido como Massacre de Nanquim. Ao transpor para o cinema uma das mais dolorosas e sangrentas páginas da história chinesa, Zhang Yimou poderia ter se guiado pela milenar tradição oriental do comedimento. Em vez disso, parece ter seguido um velho ditado ocidental: "Desgraça pouca é bobagem". Baseado no romance "As 13 Mulheres de Nanquim", o filme faz um recorte específico do episódio, limitando a narrativa a um único espaço físico: uma catedral ocidental que não poderia ser atacada pelos japoneses. Ali se refugiam um falastrão agente funerário americano (Christian Bale, na pior atuação de sua carreira), um grupo de virginais alunas católicas, e sedutoras cortesãs. O fato de a igreja ser considerada território neutro, porém, não impede que os japoneses a invadam e cometam atrocidades contra as estudantes e as prostitutas. Os eventos narrados são tão desumanos que um tratamento discreto já daria a medida da barbárie. Mas a estratégia de Yimou é espetacularizar e sentimentalizar a violência -com câmera lenta, música melosa e fumaça. O resultado acaba sendo o contrário do desejável: neutralizar o impacto emocional da violência. Uma coisa é transformar uma luta de arte marcial em um lírico balé -como Yimou fez em "Herói" (2002) e "O Clã das Adagas Voadoras" (2004). Outra, bem diferente, é fazer um suposto poema visual sobre o estupro de adolescentes. Há crimes de guerra e crimes de cinema. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |