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Crítica romance

"Sunset Park" encontra Paul Auster no auge da forma

Obra envolve temas caros ao americano em estrutura convencional e elegante

CARLOS MESSIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se em "Desvarios no Brooklyn" (2005) Paul Auster usou o ataque às Torres Gêmeas como recurso dramático a favor da ficção, o autor agora constrói uma narrativa entrelaçada ao estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos e, portanto, à crise econômica de 2008.

"Sunset Park", seu mais novo romance -que agora é publicado no Brasil, com um ano e meio de atraso-, denota a inclinação do célebre cronista de Nova York a se posicionar como um pensador dos Estados Unidos de hoje.

O autor coloca de lado antigas obsessões e a satirização do acaso, ao mesmo tempo em que se arrisca no terreno da polifonia. E retoma temas que lhe são caros, como o sonho da casa própria, a luta pela sobrevivência e o estranhamento entre gerações.

O protagonista, Miles Heller, 28 anos, vive na Flórida e trabalha com reapropriação de imóveis. Por conta de uma confusão envolvendo a sua namorada de 17 anos, é obrigado a voltar para Nova York e se reaproximar da família.

Lá, se une ao confidente e baterista de jazz Nathan e à doutoranda Alice na ocupação de uma casa abandonada em Sunset Park, bairro no condado do Brooklyn.

O autor é enfático ao narrar as condições inóspitas em que vivem os jovens, que foram praticamente escorraçados de Manhattan pela inflação imobiliária.

Tal cenário de desolação lembra "No País das Últimas Coisas" (1987), obra em que Auster flertou com o realismo mágico. Mas aqui a ambientação é mais contundente.

TERCEIRA PESSOA

A geração de Auster, 65, é representada por Morris Heller, pai de Miles, um editor literário bem-sucedido que luta contra a crise do impresso.

Cada capítulo, fora o último, é narrado sob a ótica de um personagem, sendo que todos são caracterizados com profundidade, na terceira pessoa, de forma detalhista.

Apesar das novidades, "Sunset Park" é um dos livros estruturalmente mais convencionais do autor de "A Trilogia de Nova York" (1987).

Não gera uma leitura involuntária, instigada por reviravoltas, nem uma identificação profunda como tantas de suas obras protagonizadas por alter egos evidentes.

Mas seu estilo elegante e contundentemente simples mostra-se no auge da forma.

Mais do que isso, o prosador demonstra um desejo de mudança em plena maturidade e prova que superou a década passada, sua fase mais prolífica e repetitiva. Tais traços são tão louváveis quanto promissores.

SUNSET PARK
AUTOR Paul Auster
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Rubens Figueiredo
QUANTO R$ 45 (280 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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