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Suspeita de plágio barra publicação de livro no Brasil

Lançamento de "Mulheres de Ditadores" é incerto após autora ser acusada de copiar biografia de António Salazar

Obra, que mostra a vida íntima de tiranos do século 20, teve seus exemplares recolhidos por editora portuguesa

DOUGLAS GAVRAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não dá para dizer que a escritora belga Diane Ducret temesse polêmicas ao escrever "Mulheres de Ditadores", reunião de histórias de alcova em que escarafuncha a vida íntima de casais como Elena e Nicolae Ceausescu, da Romênia, e Jiang Qing e Mao Tsé-tung, da China.

Mas a controvérsia despertada pela obra certamente não é do tipo que a autora previa. Com lançamento no Brasil programado pela Nova Fronteira para o fim de maio, o livro teve sua circulação barrada até que se esclareça uma denúncia de plágio feita pela jornalista portuguesa Felícia Cabrita, que assina "Os Amores de Salazar" (2006).

Ao ler o capítulo sobre Felismina Oliveira, amante do português António de Oliveira Salazar (1889-1970), a jornalista se sentiu roubada no mergulho que fez na vida do ditador.

Ducret, que não respondeu às tentativas de contato da reportagem até o fechamento desta edição, argumenta, em carta à imprensa portuguesa divulgada em janeiro, que o livro de Cabrita seria só uma das muitas "inspirações bibliográficas" das quais ela se valeu durante sua pesquisa.

As semelhanças entre os dois livros, porém, tornaram-se tema de discussão nos cadernos de cultura de jornais europeus (veja nesta página trechos comparativos).

Ducret nega o plágio, sustentando que o trabalho da jornalista lusa "não apresenta uma contextualização histórica destas relações" e que, neste ponto, as obras se distanciariam. "Mulheres de Ditadores" é o primeiro livro dela e recebeu elogios da crítica francesa, já tendo sido traduzido para 18 línguas.

Em comunicado à Folha, a Nova Fronteira resumiu: "O livro já estava na gráfica quando tomamos conhecimento do processo que corre [...]. Independentemente de todo o investimento já realizado na obra, não iremos imprimir o livro com qualquer dúvida [...] em aberto".

Um processo de investigação por plágio pode se estender por meses. Nele, os agentes comparam os textos sob suspeita e iniciam uma busca pelas fontes consultadas pelos autores. Além de poder ser levado à Justiça, o escritor acusado não consegue mais publicar com facilidade.

Ao ter seus exemplares retirados das livrarias portuguesas, o livro corre o risco, ironicamente, de ter a mesma sorte de inúmeras obras gestadas sob os regimes autoritários que o inspiraram: ser banido.

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