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Netos afirmam que Drummond não queria publicação

Segundo herdeiros, organizador da "Poesia Completa" quis incluir inéditos à revelia de orientação do autor

Conselheiro de nova reedição da obra afirma que vai defender a inclusão dos poemas em futuros livros

DO ENVIADO AO RIO

Espalhada por todos os cantos de um pequeno apartamento em Copacabana, a biblioteca de 15 mil volumes de Gilberto Mendonça Teles, 81, se organiza em nichos.

Num deles encontram-se os trabalhos ensaísticos desse poeta e crítico, como "Drummond - A Estilística da Repetição", estudo clássico sobre o autor mineiro.

Outro é dedicado à obra de Drummond em si, e lá se incluem "Seleta em Prosa e Verso", (José Olympio, 1971) e "Poesia Completa" (Nova Aguilar, 2002), ambos organizado por Teles.

Em pastas, estão lembranças de uma amizade de quase 20 anos, cartas, bilhetes e dedicatórias de Drummond a Teles (numa delas, o poeta escreveu ao crítico: "Você tem sido 'generoso cúmplice' da minha poesia, analisando-a e valorizando-a como eu jamais poderia esperar").

É ali que estão as cópias do manuscrito de "Lição de Coisas" feito por Drummond para Lygia Fernandes. A caneta vermelha, Teles escreveu "não", para indicar que os herdeiros do autor não autorizaram a publicação dos dois poemas inéditos.

No que avalia como "censura boba", o ensaísta disse que a razão alegada à época foi que os poemas depreciavam a memória da avó deles, Dolores, casada com Drummond por mais de 60 anos, até a morte dele, em 1987.

A versão dos netos de Drummond, hoje titulares da sua obra, é outra.

"Os dois poemas não estão na organização que o próprio Carlos fez de sua obra completa. Por isso não foram publicados nas edições -cheias de erros, diga-se- feitas pela Nova Aguilar", diz Pedro Graña Drummond, um dos três netos. Seu irmão Luis Mauricio contou o mesmo.

Segundo Pedro, Teles também quis ignorar a organização cronológica que o poeta dera à obra e criar outra, por temas, o que foi rejeitado.

O neto argumenta que a família não se opõe à publicação de inéditos do poeta, "desde que seja feita em contexto adequado". Dá como exemplo o recém-lançado "Os 25 Poemas da Triste Alegria", trabalho juvenil que o avô nunca publicou.

Professor titular da PUC-RJ, Teles mostra amargura por não ser convidado a tributos a Drummond, como a Flip.

Considera que o episódio da "Poesia Completa" pode ter influência no que vê como omissão e diz que novos estudiosos "querem ser donos" da obra do poeta. "Cada geração quer comer a outra."

A curadoria da Flip diz que o nome dele não foi cogitado e que não houve interferência dos netos de Drummond na escolha dos convidados.

Escalado para a conferência de abertura, o professor e crítico Silviano Santiago diz que Teles "merece elogios, até porque, entre nós, foi o amigo mais íntimo de Drummond". Mas lembra que há vários outros estudiosos do poeta que não estão no programa oficial, como Luiz Costa Lima, Affonso Romano de Sant'Anna e Davi Arrigucci Jr.

Professor e acadêmico da ABL, Antonio Carlos Secchin diz que acha "injusto e uma pena" que Teles esteja "um pouco esquecido".

Integrante do conselho editorial da reedição da obra de Drummond pela Companhia das Letras, Secchin conta que, se consultado, opinará pela inclusão dos dois poemas inéditos ("são de qualidade, principalmente o 'Lição de Coisas'"), lidos para ele pela reportagem.

Pedro Drummond diz que a eventual publicação de inéditos depende "de um trabalho sério de pesquisa e do interesse editorial".

Secchin observa ser curiosa a atitude de Drummond em relação ao romance de 36 anos com Lygia. "É o segredo de polichinelo. A torcida do Flamengo sabia, mas ele nunca assumiu." (FABIO VICTOR)

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