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Crítica Musical

Mãe e filha encenam tributo à nouvelle vague

Com Catherine Deneuve e Chiara Mastroianni, filme de Christophe Honoré repisa fórmula de "Canções de Amor"

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Existem cineastas que filmam no presente ignorando o passado. Outros filmam no passado como se viver no presente não fizesse diferença. O francês Christophe Honoré adora dirigir com o olho no retrovisor mirando um tempo que só viveu no cinema.

Com "Bem-Amadas", Honoré, nascido em 1970, constrói um épico romanesco que poderia também se intitular "Os Amores de Umas Loiras", em homenagem ao trabalho de Milos Forman ao qual o filme presta reverência pondo o diretor tcheco no elenco.

Eterna estrela, apesar das faces alteradas e da voz sem brilho, Catherine Deneuve serve de condutora da história, que começa em 1964 e chega aos dias de hoje.

Como cineasta nostálgico, Honoré filma com maior inspiração e alegria quando mimetiza o olhar de diretores de um passado que cultua. Mais uma vez ele reivindica, sempre com intenso charme, a filiação à nouvelle vague, espécie de juventude mítica para o cinema de hoje.

Madeleine, a loira mãe, começa como uma vendedora de sapatos saída de "Beijos Roubados", de Truffaut, e logo vive peripécias românticas semelhantes às de Geneviève, personagem de Deneuve em "Os Guarda-Chuvas do Amor", de Jacques Demy.

Nos anos 1990, o fio condutor passa a ser Vera, a loira filha, interpretada por Chiara Mastroianni, de quem Deneuve é mãe de fato, o que reafirma na tela o jogo de filiações que Honoré tanto reivindica.

Em torno dessas loiras, cada amante representa um tipo de homem conforme a época (o canalha, o egocêntrico, o gay), enquanto os momentos críticos (a Primavera de Praga, a emergência da Aids, o 11 de Setembro) agregam um fundo histórico.

Como já havia feito com melhores resultados, Honoré incorpora canções de Alex

Beaupain à trama, numa mistura de pop meloso e gracioso que pode agradar ou irritar.

Ao retomar o mesmo princípio utilizado em "Canções de Amor", "Bem-Amadas" impõe comparações em que sai perdendo.

Enquanto o filme de 2007 se organizava por uma economia perfeita entre situações e canções, no de agora falta equilíbrio e mais de uma vez as partes musicais soam enfadonhas. Mas não é só.

A ambição de abarcar tantos momentos também provoca mais de uma turbulência no percurso, e a duração excessiva (139 minutos) deixa a mesma sensação dos doces com excesso de açúcar.

BEM-AMADAS

DIREÇÃO Christophe Honoré

PRODUÇÃO França, 2011

ONDE The Square Granja Vianna, Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca e Reserva Cultural

CLASSIFICAÇÃO 16 anos

AVALIAÇÃO bom

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