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Tataraneto de Darwin faz longa sobre fanatismo

'A Tentação', que chega hoje ao país, traz embate entre religioso e ateu

Matthew Chapman é casado com a atriz brasileira Denise Dumont e faz roteiro para Bruno Barreto

DE SÃO PAULO

Matthew Chapman é um homem do cinema, mas é conhecido por suas ações fora dele. Tataraneto de Charles Darwin (1802-1882), criador da Teoria da Evolução, o diretor inglês escreve livros sobre religião, assina reportagens sobre casos que envolvem fanatismo e ainda é casado com a atriz brasileira Denise Dumont, uma das musas do cinema e televisão nos início dos anos 1980.

No seu novo filme, "A Tentação", Chapman, que já foi indicado para o prêmio Framboesa de Ouro de pior roteiro por "A Cor da Noite", com Bruce Willis, consegue unir boa parte de suas paixões: cinema, polêmica e religião.

"Nunca vi um filme que jogasse um americano crente [a Deus] contra outro descrente. Eu queria mostrar esses pontos de vista", explica o diretor e roteirista sobre o longa que mostra um jovem ateu (Charlie Hunnam) apaixonado pela mulher (Liv Tyler) de um fanático católico (Patrick Wilson).

Obviamente que esse romance proibido não dá certo e entra em cena um jogo de fanatismo, tragédia e paixão, destrinchado quando o rapaz desabafa com um policial (Terrence Howard).

O longa sobre um homem que pode chegar a cometer um assassinato em nome da fé gerou uma certa polêmica quando estreou no Festival de Sundance, ano passado.

"Recebi algumas cartas raivosas", diz Chapman. "Mas a experiência mais estranha foi em Sundance. Durante minha apresentação sobre o filme, uma professora católica da Califórnia levantou-se e pediu desculpas por tudo que a religião dela fez contra pessoas como eu. Ela achou que eu era homossexual."

TEMA ATUAL

"A Tentação" estreia no Brasil em um ano marcado por ataques a igrejas ou locais sagrados nos EUA, o último sendo há uma semana, em um templo sikh, que culminou com sete mortos.

"Os Estados Unidos são duas nações. Uma sofisticada e intelectual, que podemos chamar de 'A América de Woody Allen'. E outra que é povoada por homens da caverna", fala o diretor de forma bem humorada.

"Eles colocam um robô em Marte, mas há pessoas que acham que a Terra foi criada somente há 10 mil anos."

Morando em Nova York há mais de 20 anos, o inglês não imaginava que as teorias do tataravô fossem tão rebatidas nos Estados Unidos.

"Um pastor falou para mim que Darwin era o demônio e eu seria o rebento dele. Não é incrível? Os americanos são muito bizarros.", confessa.

"O problema é que eles reverenciam muito documentos como a Bíblia e a Constituição e não questionam", continua.

"Por causa da segunda emenda, todo mundo pode andar armado", conta referindo-se à frase "o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido" na Constituição americana.

Seu próximo projeto, no entanto, é menos polêmico. Chapman ajuda na finalização do roteiro do próximo filme de Bruno Barreto ("O Que É Isso, Companheiro?", de 1997), "Flores Raras", sobre o romance da poeta americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto, de "O Senhor dos Anéis") com a urbanista brasileira Lota de Macedo Soares (Gloria Pires).

"Ensaiei com Gloria há seis semanas e foi uma honra", conta o cineasta. "Nesta viagem, senti um clima contrário ao que encaro nos Estados Unidos. O Rio está mais otimista."

(RODRIGO SALEM)

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