Texto Anterior
|
Próximo Texto
| Índice | Comunicar Erros
Crítica Drama Filme enfoca poder do ponto de vista da atividade política Longa de Pierre Schöller acerta com equilíbrio entre os dilemas da vida pública e privada de um ministro INÁCIO ARAUJOCRÍTICO DA FOLHA A primeira sequência de "O Exercício do Poder" faz esperar pelo pior: numa luxuosa sala, uma bela mulher, nua, abre as pernas para um crocodilo que se posta a dois metros dela. O animal abre a boca, mas não ataca. É a mulher que, docilmente, introduz o corpo na boca horrenda. Eis a metáfora: o poder é um monstro pronto a destruir quem o exerce; o poderoso não o ignora, mas nada pode fazer senão oferecer-se ao monstro para que o devore. Os simbolismos ficam por aí em "O Exercício do Poder": surpresa inicial em um filme que, daí por diante, nos surpreende positivamente. À audácia da abertura se seguirá outra: um desses raros filmes que são favoráveis aos políticos. Não favoráveis, propriamente, mas que procuram entender a atividade. Nós, eleitores, se pensamos em políticos, quase automaticamente pensamos em falcatruas. Somos o povo. E o povo tem o direito de ser desconfiado, justifica alguém por não ter o poder. Sim, "O Exercício" vê o poder do ponto de vista dos políticos que, eventualmente, têm responsabilidades de governo, como Bertrand Saint-Jean, protagonista do longa. Não significa que seja um filme pelego (o ponto de vista do povo fora contemplado em "Versailles", filme anterior do mesmo Pierre Schöller). Saint-Jean tem poder, é fato. Mas de quê? De exigir mais dos auxiliares ou de dar férias ao chofer quando bem entende? Isso é poder, claro. Mas viver numa espécie de montanha-russa, enfrentar ministros poderosos, ficar longe da família, observar a cada passo como se dá sua representação na mídia também. Esses são alguns dos ônus que o filme focaliza. No conteúdo, seu principal encanto deriva de encontrar um delicado equilíbrio entre a figura pública e a privada. Mas é na forma que Schöller pode ser visto como uma bela esperança do cinema europeu: é no ritmo enérgico, na dinâmica dos planos, na evolução às vezes controladamente caótica dos fatos que se define a força e o interesse de seu filme. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |