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Livros 'fantásticos' são fenômenos de vendas no Brasil

A rigor, obras se encaixam mais no campo da fábula do que nas definições consagradas do gênero que exaltam

Escritores aproveitam interesse dos leitores juvenis por sagas que retratem pessoas reais em universos mágicos

DE SÃO PAULO

As expectativas de Eduardo Spohr, Raphael Draccon e Carolina Munhóz para a 22ª Bienal do Livro de São Paulo são grandes.

Em 2010, após os ingressos para a palestra de Spohr esgotarem, formou-se uma fila pelos corredores do Anhembi de quase mil fãs em busca de um autógrafo.

Estes autores tornaram-se heróis para uma geração de leitores mais jovens que urgia por uma literatura desta natureza feita no Brasil.

Acostumados a consumir rapidamente sagas completas de "Harry Potter" e "Crepúsculo", foram contemplados com a possibilidade mais concreta de conhecer pessoalmente estes escritores em eventos literários e em trocas de e-mails.

LITERATURA FANTÁSTICA

O notório sucesso comercial destes livros deve-se em parte a uma estratégia de marketing e divulgação muito bem elaborada pelas editoras, que uniram diversos gêneros sob o epíteto de literatura fantástica.

Esta classificação aguça a curiosidade dos leitores e inevitavelmente eleva o patamar comercial destas obras.

Alcebiades Diniz, pesquisador em literatura fantástica na Unicamp, aponta o que seria o gênero para alguns importantes teóricos.

"Para Roger Caillois, uma obra fantástica colocaria em falso o funcionamento da legalidade cotidiana com a irrupção do inacreditável; para H.P. Lovecraft, acionaria os medos mais primitivos do homem; para Tzvetan Todorov, materializaria uma forma obsoleta de tratamento de temas tabus, marcada pela ambiguidade entre o natural e o sobrenatural", explica.

Uma classificação rigorosa encaixaria as obras destes brasileiros no campo das fábulas ou do maravilhoso, uma vez que naturalizam os elementos sobrenaturais (fadas, anjos), em vez de causar sensações de incerteza ou estranhamento no leitor, esperadas no gênero fantástico.

Raphael Draccon admite as diversas sistematizações para estas obras. "Vejo a literatura fantástica mais como uma grande metáfora, como um tipo de escrita que sempre foi a mais popular do mundo, desde os irmãos Grimm e Júlio Verne."

Como editor do selo Fantasy, ele tem metas claras quanto ao tipo de autor nacional que pretende publicar.

"Queremos livros diferentes do tradicional, mas que tenham apelo comercial, e, principalmente, queremos saber da índole do autor, tem que ter ficha limpa, analisamos seu histórico antes de decidir publicá-lo", diz.

Perfil de moral. Este que é um simulacro dos personagens heróis de seus livros.

"Lembro das dificuldades em publicar 'Dragões', pois eu era autor de literatura fantástica e estreante." Agora, no papel de caça-talentos, escolherá as novas promessas da "literatura fantástica" brasileira.

(MARCIO AQUILES)

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