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Análise

Periguetes e peruas são clássicos do estilo nacional

Look da periferia sempre foi adaptado para os guarda-roupas das ricas

TV Globo/Divulgação

VIVIAN WHITEMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A explosão do "look suburbana" não é só mais um fenômeno fashion lançado por uma novela de sucesso. Se as roupas e acessórios das personagens Suelen e Olenka (com seu singelo pingente "love" dourado) estão entre os mais copiados pelas mulheres Brasil afora, o motivo vai além de modismo passageiro.

O que ocorre é que "Avenida Brasil", com seus roteiristas ousados e figurinistas de primeira linha, soube captar de forma ampla e perspicaz a ascensão da classe C no país -tão comentada, mas pouco compreendida em suas nuances menos óbvias.

As gatas do Divino personificam o sexy que sempre serviu como uma das caricaturas do estilo brasileiro. Porém, o fato de ser considerada cafona por parte de certa elite fashion não impediu que esse look de sensualidade aberta virasse uma das faces do Brasil no exterior.

O sexy justo, estampado, usado com acessórios chamativos, sempre fez sucesso em subúrbios e periferias. E mais: sempre foi adaptado para os guarda-roupas das ricas com um "upgrade" de grifes, materiais e padrões.

Periguetes, estilo Suelen, e peruas (emergentes, como Carminha, ou "de família") andam lado a lado e são figuras clássicas do estilo nacional, gostem ou não os pretensos donos da elegância.

Assim, ocorre um movimento duplo. De um lado, as maiores grifes do circuito Nova York-Milão-Paris estão chegando ao Brasil. E trazem na bagagem uma imagem da brasileira totalmente fundamentada em palavras de ordem como sexy e chamativa.

Essas mesmas palavras de ordem dão o tom da nova gama de produtos e grifes feitos para atender à classe C, que deu nova movimentação à economia fashion local.

PONTO DE FUSÃO

E qual é o ponto de fusão? O fato é que grifes estrangeiras e brasileiras de luxo estão trabalhando com um tipo de imagem parecido com o focado pelas marcas populares.

Na verdade, isso sempre aconteceu em certa escala, mas agora, graças às atuais configurações e necessidades do mercado, esse movimento ficou menos disfarçado.

Como sempre ocorre, porém, a classe A e suas marcas não gostam de admitir que a realidade e sobretudo o olhar das classes mais pobres são os elementos mais influentes na consolidação de qualquer coisa que possa ser delineada como estilo local.

Assim, as Suelens chegam às grandes revistas e catálogos com um verniz irônico, de quem diz: as ricas e elegantes estão agora "brincando" de ser suburbanas. O que, novamente, não é novidade e ocorre em ciclos na moda.

Mas o buraco do umbigo enfeitado com cintinho dourado é mais embaixo desta vez. A moda brasileira, inclusive a de luxo, não pode mais ignorar as variações dessa imagem sexy-espevitada-perua que agrada à maioria das clientes com dinheiro.

O minimalismo clássico e outras correntes conceituais distantes dos trópicos são para o gosto de poucas consumidoras e não sustentam grandes negócios no Brasil.

O mercado decretou e a novela registrou: outros acessórios e modelitos surgirão, mas o estilo dos subúrbios chegou ao topo da moda para ficar.

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