Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Mauricio Stycer

Reality show, você ainda verá um

Há algo de fascinante, para não dizer diabólico, no interesse que este tipo de programa desperta

Depois de 94 dias, encerrou-se nesta quarta-feira (29/8) "A Fazenda 5". Apesar de a audiência média ter sido um pouco inferior à da edição anterior, o reality show rendeu à Record alguns de seus melhores índices no ano.

A dançarina Viviane Araujo, ex-namorada do cantor de pagode Belo, foi coroada campeã, com 84% dos votos do público, superando na final, com facilidade, o ator Felipe Folgosi e o drag queen Léo Áquila.

Por três meses, mais uma vez, me sentei diante da TV para acompanhar as peripécias de um grupo formado por 16 subcelebridades, dispostas a expor a própria intimidade sem dó nem piedade.

Os participantes dormem num mesmo quarto, fazem a própria comida e cuidam dos animais. Submetidos a uma rotina tediosa, salpicada de jogos e disputas escolares, são filmados 24 horas por dia, inclusive quando dormem e tomam banho.

O objetivo maior é o prêmio final, de R$ 2 milhões, mas todos os participantes miram mais longe com a exposição. Sonham alavancar suas carreiras, receber convites para novos trabalhos, além de faturar alguns dos prêmios disputados durante o confinamento.

O público vota semanalmente em dois candidatos indicados pelo próprio grupo, até chegar à decisão final. O modelo é quase idêntico ao mais famoso reality show exibido no Brasil, o "Big Brother", com a diferença que no programa da Globo os participantes são figuras anônimas, com fama zero.

Tanto na "Fazenda" quanto no "BBB" os candidatos precisam ser hábeis para evitar ao máximo a indicação a estes "paredões" semanais e populares o suficiente para sobreviver ao voto do público, que escolhe quem deve ficar.

Não é possível, a esta altura do campeonato, ver "A Fazenda" ou o "BBB" como sintomas de uma degradação maior da televisão. São programas destinados exclusivamente ao entretenimento, tão rasos quanto muitos outros, com o fascínio adicional de permitir que o público avalie, o tempo todo, os participantes.

Como é possível julgar o comportamento de pessoas dispostas a expor a própria intimidade em troca da possibilidade de faturar uma bolada? Pelas manifestações que vejo de leitores e nas redes sociais, muita gente ainda mede os candidatos de reality show em matéria de "sinceridade", "honestidade" ou "caráter".

Não é o que me interessa. O que mais me diverte nestes programas são as confusões que a "luta pela sobrevivência" produz. Gosto de ver as brigas, as traições, as gafes, as burradas e os desastres em matéria de convívio social que o confinamento revela.

Há algo de fascinante, para não dizer diabólico, no interesse que este tipo de programa desperta. E não estou falando apenas das emissoras de TV aberta -todas, hoje, com atrações do gênero "reality show" em suas grades.

Num ambiente supostamente destinado a um público mais qualificado, o da TV paga, a programação hoje está dominada por programas em que o público é convidado a compartilhar da intimidade alheia ou decidir o destino de candidatos a prêmios variados.

Da gastronomia à forma física, do turismo à moda, da intimidade de celebridades à de anônimos, tudo vira reality show. Se você não consegue desligar a televisão, meu conselho é: divirta-se.

mauriciostycer@uol.com.br
@mauriciostycer

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.