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Diário de Lisboa

O MAPA DA CULTURA

O Teló lusitano

Todos cantam "bom bom bom, já já já já..."

ISABEL COUTINHO

BOSS AC QUERIA criar uma canção que recordasse os clássicos dos anos de ouro da Motown e acabou surpreendido com Portugal inteiro a cantar "Sexta-feira (Emprego Bom Já)", o single do álbum "AC para os Amigos".

O rapper e cantor de hip-hop português, filho de cabo-verdianos, misturou "humor e sarcasmo" para apelar à "cidadania activa" e conquistou os portugueses de várias gerações com o refrão: "É sexta-feira/ Suei a semana inteira/ No bolso não trago um tostão/ Alguém me arranje emprego/Bom bom bom bom/Já já já já..."

O músico, que esteve no último Rock in Rio, nascido Ângelo César Firmino, está a promover o álbum, e o videoclipe, com figuras de Lego (bit.ly/sextafe), estourou na rede.

A letra fala dos que passaram "tantos anos a estudar" para acabar desempregados ou num "emprego da treta". Fala dos que gritam que não tiraram "curso superior de otário": "Ainda o mês vai a meio já eu 'tou aflito/ Oh mãe fazias-me era rico em vez de bonito".

Boss AC sabe pôr o dedo na ferida: "Somos todos treinadores de bancada, e em cada português há um político em potência. Parece que qualquer um tem a solução para a crise, que todos sabem por que fizeram os governantes a porcaria que fizeram, mas no dia de votar é domingo, está sol e vai tudo para a praia porque o voto não serve de nada", disse numa entrevista.

SAUDADE DE JOÃO SERRA

Nem todos sabem, mas Boss AC também compôs a letra de "O Homem do Saldanha", fado que eternizou uma das figuras mais enternecedoras de Lisboa: João Serra.

Este homem, que morreu aos 80 anos, em 2010, ficou conhecido por passar as noites na zona do Saldanha, na capital, a dizer adeus aos automobilistas. Todos acenavam ao "senhor do Adeus". Era assim que combatia a solidão.

O fado ganhou vida na voz de Carlos do Carmo e de Marco Rodrigues (no disco "Tantas Lisboas").

Marco Rodrigues canta no Café Luso, no Bairro Alto. Na primeira vez que Maria Gadú fez um espectáculo em Lisboa, foi jantar nesta casa de fados. Ouviu-o cantar, meteu conversa e ficaram amigos. Sempre que ela vem a Lisboa, fazem tertúlias com guitarradas.

Em 2011, Marco Rodrigues foi ao Rio gravar o tema "A Valsa", que Gadú canta com ele no disco "Mais uma Página". O português participou há dias nos concertos dela, em São Paulo e no Rio, e actuará nos espectáculos que a brasileira faz em maio, em Lisboa e no Porto.

COMBOIO NOCTURNO

Por estes dias, o tempo voltou para trás. O dinamarquês Bille August, que por cá filmou nos anos 90 "A Casa dos Espíritos", regressou para rodar "Comboio Nocturno para Lisboa", a adaptação do romance de Pascal Mercier, com Jeremy Irons e Charlotte Rampling.

Coprodução entre Portugal, Alemanha e Suíça, o longa tem orçamento de 8 milhões de euros. O livro conta a história de um professor suíço que, após conhecer uma mulher portuguesa, ruma a Lisboa para seguir o percurso de Amadeu de Prado, médico e poeta que lutou contra a ditadura.

Quando Mercier esteve em Portugal, lamentou-se: "Tenho dúvidas de que consigam fazer um filme deste livro, mas os direitos foram vendidos. Mudaram personagens, enredo, atmosfera, tudo."

LOURENÇO, O GHOST-WRITER

A sétima edição do Literatura em Viagem, que deveria realizar-se neste final de semana, em Matosinhos, foi cancelada devido a uma lei que impede as autarquias de assumirem qualquer nova despesa que exceda os fundos disponíveis.

O festival é organizado por Francisco Guedes, que também cuida do Correntes d'Escritas. Foi lá que Eduardo Lourenço falou sobre "Pequena Volta ao Mundo", que saiu em edição de autor em 1961, assinado por Lúcio de Sousa Dias.

Sabe-se agora que o autor é Lourenço. O Prémio Camões de 1996 o escreveu a pedido do amigo,que lhe deu fotos e notas de uma volta ao mundo feita em 1954. Foi graças a João Nuno Alçada, que trata do acervo de Lourenço, que manuscrito e livro reapareceram.

"Não há uma palavra [no livro] que seja efectivamente de qualquer experiência minha. Portanto, essa é que é a ficção pura", disse, na Póvoa, Lourenço, que não quer a reedição do livro. "Meu amigo morreu na convicção de que o livro era dele, e agora vou matá-lo pela segunda vez?".

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