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Diário do Rio

O MAPA DA CULTURA

Que não deixem cair

Enclave afrancesado nos trópicos

ALVARO COSTA E SILVA

O DESABAMENTO, no mês passado, de um sobrado do século 19 que funcionava como depósito do bloco carnavalesco Cordão da Bola Preta, na esquina das ruas Lavradio e Relação, foi o alarme.

Para pasmo geral, o presidente do Crea-RJ chegou a dizer que cem outros prédios antigos do Centro do Rio correm risco de ruir, o que levou os cariocas mais pessimistas a acreditar que, depois do "Bota-Abaixo" dos primeiros anos do século 20, está em curso na cidade o "Deixa-Cair".

Essa região, onde se concentram alguns imóveis vazios ou pobremente utilizados, mantém-se, paradoxalmente, como um dos roteiros mais gostosos de passeio na capital, com aparência similar à que possuía na era do reformador Pereira Passos. Justamente porque escaparam ou foram preservados da especulação imobiliária.

Pegue-se, por exemplo, a avenida Marechal Floriano, que corre paralela à monumental (e algo fascista) avenida Presidente Vargas. Também chamada de rua Larga -mas só pelos tradicionalistas e pelos personagens de Rubem Fonseca-, é um enclave de cidade afrancesada nos trópicos, guardando joias como as sedes do Colégio Pedro 2º, do Itamaraty e da Light, que ficam escondidas pela parede de altos edifícios.

No geral, a arquitetura do Centro inclui uma salada de estilos que contam sua história em fases: colonial, imperial e republicana.

Do Paço Imperial ao Campo de Santana, passando pela Cinelândia, há de tudo: neoclássico, eclético, "art nouveau", neocolonial, "art déco", moderno e pós-moderno -neste último estilo, destaca-se o edifício número 1 da avenida Rio Branco, majestosamente horroroso.

Nos finais de semana, quando boa parte do comércio fecha, fica mais fácil olhar para cima com calma e apreciar uma fachada, um florão. E se perguntar -como faz o Ruy Castro num de seus passatempos prediletos- quem morou, amou e morreu ali.

O ALICATE

Aos sábados, do Centro, vale rumar para a praça da Bandeira, mais precisamente para a rua Barão de Ubá, 46.

A partir das 16h, tem samba no centro cultural comandado por Wilson Moreira, o popular Alicate. A razão do apelido é fácil descobrir: basta apertar a mão dele.

Ainda muito forte aos 76 anos, o ex-carcereiro do Desipe (antigo Departamento do Sistema Penitenciário do Rio) é um dos maiores melodistas da música brasileira, autor de "Gostoso Veneno", "Goiabada Cascão", "Senhora Liberdade", clássicos em parceria com Nei Lopes.

"Para forrar o estômago, recomendo os caldos de abóbora, agrião, inhame, cenoura. E o bolinho de feijoada, que sai direto", conta Ângela Nenzy, mulher de Wilson, que negocia ampliar as instalações com a aquisição do solar gêmeo que fica ao lado, uma construção de 1887.

NA ZONA PORTUÁRIA

"Haikus" é um dos 77 livros (última contagem) publicados pelo argentino César Aira, de preferência em pequenas, mini e minimini editoras. Traduzido pelo poeta Carlito Azevedo, foi o título escolhido para a estreia do selo Pipa, da Dantes (dantes.com.br). São apenas 400 exemplares, numerados e carimbados.

Com capa de Julia Debasse, a edição foi toda rodada em pequenas gráficas da zona portuária (Morro da Conceição, praça da Harmonia, ruas do Livramento e Leandro Martins), região da cidade que passa atualmente por processo de maior transformação.

De olho nas Olimpíadas de 2016, ali será erguido o chamado Porto Maravilha, com as enormes torres comerciais que deixarão o Rio, que um dia já foi português e francês, com cara de Dubai.

Ah, o livro do Aira? É muito, muito engraçado.

A BOA DA NOITE

Numa das crônicas do recém-lançado "A Última Madrugada" (Leya), o escritor João Paulo Cuenca fala da geração carioca que é a musa de si mesma e está sempre se perguntando: "Qual é a boa de hoje?" Pois a boa do momento atende pelo nome de Comuna.

Como não podia deixar de ser, fica num casarão, meio machadiano, na rua Sorocaba, 585, em Botafogo. Em pouco mais de um ano de "ocupação", apresenta shows, festas e feiras no pátio aberto, em clima alternativo.

Espaçoso, o local ainda abriga uma galeria de arte de rua bem bacana, uma loja de estilistas iniciantes e um ateliê de jovens artistas plásticos.

O botequim da esquina com a tua Mena Barreto, Alfa Bar, abastece o "esquenta" e o "esfria" da moçada.

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