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Diário de Berlim

O mapa da cultura

SILVIA BITTENCOURT

O QUE NO INÍCIO ninguém levava a sério vem provocando um vendaval na Alemanha: é o Piratenpartei (partido pirata), que nos últimos pleitos estaduais roubou eleitores de todas as grandes agremiações, da direita à esquerda.

Suas principais reivindicações são a liberdade de uso da internet e uma reforma dos direitos autorais, que facilite, por exemplo, o download de músicas e filmes. Seus líderes -jovens trajando camiseta e tênis- dão entrevistas ao mesmo tempo em que tuítam para os simpatizantes.

Os primeiros críticos foram os políticos tradicionais, pois a nova agremiação mal tem um programa. Além disso, até neonazistas manifestaram apoio.

Depois vieram artistas e escritores, entre eles Thomas Brussig ("O Charuto Apagado de Churchill", L&PM) e Charlotte Roche ("Zonas Úmidas", Objetiva). Lançaram o manifesto "Nós Somos os Autores", contra projetos que visassem o "roubo profano" da propriedade intelectual.

O documento pôs fogo no debate sobre mudanças nos direitos autorais na Alemanha, onde todo ano são registrados milhares de processos contra usuários de plataformas de filmes e músicas.

Agora, o contramanifesto chamado "Nós Somos os Cidadãos" vem colhendo assinaturas a favor de reformas que adaptem a lei à era da digitalização.

As pesquisas indicam que, ao menos na política, a onda pirata vem amainando. Mas a mobilização continua.

ANIVERSÁRIO

A Alemanha lembra os 30 anos da morte de Rainer Werner Fassbinder, um dos expoentes do chamado novo cinema alemão das décadas de 1970 e 1980.

Ao tratar de temas políticos e sociais, trazer para as telas personagens marginais e abordar tabus como a sexualidade, ele ia contra o cinema convencional e comercial predominante nos anos do milagre econômico.

O principal evento ocorre no Museu Histórico Alemão, em Berlim, que apresenta até novembro produções do cineasta -como o clássico "O Casamento de Maria Braun" (1978)-, além de palestras.

Em Munique, o Museu do Teatro Alemão mostra até setembro exposição destacando sua trajetória nos palcos. Uma das peças mais polêmicas foi "O Lixo, a Cidade e a Morte", escrita em 1975, pela qual foi acusado de antissemitismo.

Fassbinder morreu em 10 de junho de 1982, aos 37 anos, provavelmente de overdose. "Sua vida foi um suicídio em prestações", escreveu o jornalista Jürgen Trimborn na biografia que acaba de publicar, pela editora Propyläen.

BAYREUTH AFRICANA

Estreou o documentário "Knistern der Zeit" (ou "o estalar do tempo"), de Sibylle Dahrendorf, sobre o último projeto do cineasta e diretor teatral alemão Christoph Schlingensief, morto em 2010.

Mostra a chamada "aldeia da ópera", que Schlingensief começou a construir em Burkina Faso, no oeste da África, e que agora está nas mãos de sua mulher, a figurinista Aino Laberenz. A ideia é levantar, em região deserta próxima à capital, Ouagadougou, um vilarejo em torno de uma ópera.

Conhecido por performances polêmicas -como a sua versão para "Parsifal" no festival wagneriano de Bayreuth, entre 2004 e 2007, e "O Holandês Voador", em Manaus (2007)-, Schlingensief não teve tempo de ver a coisa pronta.

Mas ali já funcionam a escola (que oferece aos jovens cursos de arte, música e cinema), a cantina e uma estação hospitalar.

Financiada por meio de doações, a ópera será erguida no centro do vilarejo.

"DOGUMENTA"

Os jornalistas alemães vêm se divertindo com alguns eventos paralelos da 13° edição da Documenta, a maior mostra de arte contemporânea do mundo, aberta na semana passada em Kassel.

Sobretudo com um passeio guiado para cachorros, onde veterinários contratados pela curadora Carolyn Christov-Bakargiev (ela mesma dona de uma cadela maltês) explicam que tipo de relação os animais podem ter com a arte.

Os cães são levados para afocinhar e farejar objetos das instalações que se encontram no parque Karlsaue. É o caso da tenda de pescador do artista japonês Shinro Ohtake e do jardim levantado pelo francês Pierre Huyghe.

Neste último. um homem e um cachorro (que fazem parte da obra) perambulam por entre ervas daninhas, lajes de pedra e uma colmeia de abelhas construída sobre uma escultura.

O passeio canino não surpreende. A curadora afirmou várias vezes que o ser humano não seria o centro desta Documenta.

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