São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2010

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DIÁRIO DO RIO
O MAPA DA CULTURA

Museu de novidades

MAM dá sinais de revitalização

LUIZ FERNANDO VIANNA

A RECUPERAÇÃO do Museu de Arte Moderna como local de referência de exposições de arte contemporânia e de afluência de público está para a cultura do Rio como a despoluição da baía de Guanabara está para o ambiente, ou a revitalização da zona portuária para o urbanismo: fala-se há tanto tempo do tema que já virou lenda.
O marco inicial da derrocada do MAM é o incêndio de 8/7/ 1978, que destruiu quase todo o acervo. Mas outros fatores contribuíram, como a degradação do entorno -uma área central da cidade onde andar a pé envolve certo risco- e a consagração do consumo como lazer, esvaziando um museu notório por atrações não comerciais.
Para citar apenas quatro exemplos fundamentais de sua história, foi no MAM que aconteceram a exposição do Grupo Frente (1955), a Exposição Nacional de Arte Concreta (1957), o lançamento do neoconcretismo (1959) e a primeira exibição da "Tropicália", de Hélio Oiticica, em 1967.
No entanto, sinais de recuperação estão sendo percebidos. Em 2010, três dos principais artistas brasileiros mostraram trabalhos novos no museu: Carlos Vergara, Waltercio Caldas e Nuno Ramos. Um quarto, José Bechara, inaugura "Fendas" no dia 23.
As exposições atraíram, até o fim de outubro, cerca de 35 mil pessoas. Pouco, se comparado às 108 mil de 2009, mas no ano passado houve a mostra de Vik Muniz, que tinha maior apelo para o público não habituado a museus.
Também em outubro, foram realizadas três edições especiais dos "Domingos da Criação", que marcaram época no início da década de 70 ao reunir artistas plásticos, atores, músicos e cineastas num clima de liberdade que contrastava com a ditadura.
Em 24/10, Cildo Meireles comandou a festa, na qual apareceram Marisa Monte, Fernanda Torres e outros. E já é praxe nas jovens tardes de domingo do MAM dançar gratuitamente nos ensaios da Orquestra Voadora.
Um dos responsáveis pelo bom momento, o curador Luiz Camillo Osorio já tem acertadas para 2011 mostras de brasileiros de renome, como Adriana Varejão e José Resende, além de uma retrospectiva da francesa Louise Bourgeois, morta este ano. E planeja-se incrementar projetos como o educativo, hoje a cargo de Luiz Guilherme Vergara.
Tudo depende de dinheiro, cuja falta constante solapou outras tentativas de reerguimento do MAM, que não é público. O presidente do museu, Carlos Alberto Chateaubriand, comemora ter hoje dois mantenedores fixos (Petrobras e Light) e verba do BNDES para a reforma do prédio projetado em 1954 por Affonso Eduardo Reidy e que se tornou um dos mais importantes da arquitetura nacional. Buscam-se agora recursos para a construção de um anexo para onde iria, dentre outros segmentos, a famosa (e hoje pouco utilizada) biblioteca do museu.

DESMORONAMENTOS EM CENA
Entre os destaques da boa temporada teatral carioca estão duas peças ao mesmo tempo corrosivas e hilariantes. "Pterodátilos", texto do norte-americano Nicky Silver encenado por Felipe Hirsch no Teatro das Artes, traz o sempre impressionante Marco Nanini como pai e filha de uma família cujo desmoronamento tem como alegoria a desmontagem gradual do palco.
A outra é "Deus da Carnificina", da francesa de origem iraniana Yasmina Reza. Dois casais se encontram para discutir uma briga entre os filhos e acabam num tiroteio de ironias e acusações do qual ninguém sai ileso. O ótimo elenco (Julia Lemmertz, Paulo Betti, Deborah Evelyn e Orã Figueiredo) é dirigido no Maison de France por Emílio de Mello -já em cartaz com "Cartas de Amor - Electropoprockoperamusical", no Sesc Copacabana.
Também causa impacto "Antes da Coisa Toda Começar", da Armazém Companhia de Teatro, dirigida por Paulo de Moraes. No pequeno Teatro 3 do CCBB, os personagens enfrentam problemas de fundo: deixar-se morrer ou não; amar um irmão ou odiá-lo; viver ou representar. Em suma, ser ou não ser.

REVERÊNCIA À BOA MÚSICA
O Instituto Moreira Salles começou a recriar em seu auditório discos fundamentais de música popular e reverenciar artistas idem. Em outubro, todo o repertório de "A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes" foi interpretado pelos dois artistas. Na próxima terça, às 20h, Elton Medeiros será homenageado por seus 80 anos. A série continua em 2011.


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