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Portugal tem programas de incentivo
MARIA LUIZA ROLIM
especial para a Folha, de Lisboa
Até finais da década de 80, a situação dos edifícios habitacionais
antigos em Lisboa e no Porto era
de degradação generalizada. Portugal era o único país da Europa
que mantinha o seu patrimônio
nesse estado.
Para isso contribuiu o fato de os
aluguéis (congelados durante
muitos anos após a Revolução dos
Cravos, em 1975) serem muito baixos (ainda hoje, há milhares de
pessoas que pagam aluguéis irrisórios). Com isso, os proprietários
ou não tinham dinheiro para recuperar os prédios ou não tinham interesse em fazê-lo.
Até que, em 1988, foi criado o
Recria, programa que seria aperfeiçoado em 1992 e que tem permitido a reabilitação de milhares de
imóveis por meio da atribuição de
subsídios a fundo perdido a particulares (proprietários), até 75% do
montante das obras em habitação.
Esses subsídios são disponibilizados pelas câmaras (prefeituras) e
poder central. Esse programa já
permitiu a reabilitação de 1.047
edifícios em Lisboa.
Em 1995, as câmaras de Lisboa e
do Porto não dispunham de verbas
suficientes para dar resposta aos
pedidos de financiamentos para
recuperação de edifícios degradados. O Recria, tanto em Lisboa como no Porto, estava em ritmo lento. Esse programa previa a recuperação de edifícios em qualquer
bairro, histórico ou não.
Como as dificuldades financeiras
das câmaras estavam prejudicando a recuperação das zonas históricas, criou-se, em 1996, um programa denominado Rehabita,
aplicável exclusivamente a núcleos
urbanos históricos declarados por
lei "áreas críticas de recuperação e
reconversão urbanística". O regime visa apoiar a execução de obras
de conservação, melhorias ou de
reconstrução e, ainda, os realojamentos provisórios ou definitivos
daí decorrentes.
O Rehabita, criado por decreto-lei, irá conceder (por meio de
organismos estatais) importantes
apoios aos municípios (em geral
50% a fundo perdido e 50% de empréstimo a juros altamente subsidiados). O Rehabita é uma espécie
de Recria aperfeiçoado: apresenta
melhores condições de acesso e o
grau de exigência das intervenções
é mais elevado. Tal como no Recria, também no Rehabita os proprietários vão ter que compartilhar as obras de recuperação que
realizarem.
Esse novo instrumento financeiro permitirá, numa primeira fase
de intervenção, a recuperação de
419 edifícios em Lisboa nos próximos três anos, perfazendo um total de 2.546 habitações nos bairros
de Alfama, Colina do Castelo de
São Jorge, Bairro Alto, Madragoa e
Mouraria.
Tanto no Recria como no Rehabita, a condição é os edifícios estarem no mínimo parcialmente habitados, e os proprietários provarem que têm o imóvel há mais de
dois anos (para evitar especulações).
Chiado
O caso do Chiado, o bairro lisboeta que sofreu um incêndio de
grandes proporções, é um caso à
parte.
Houve verbas específicas para a
recuperação, inclusive apoios comunitários. Edifícios, inteiramente destruídos pelo fogo, tiveram
que ser reconstruídos. Quase dez
anos depois do incêndio, o Chiado
continua em obras. Mas a reconstrução dos edifícios não trouxe benefícios para os antigos moradores.
A zona que pegou fogo era mais
comercial e os poucos habitantes,
que pagavam aluguéis muito baixos, foram alojados em outros
bairros.
Os apartamentos reconstruídos
terão novos inquilinos.
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