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Horizonte amplo e densa vegetação ao alcance dos olhos valorizam morada em 30%
Verde põe preço do imóvel no azul
JULIANA GARÇON
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Da janela lateral do quarto de
dormir/
Vejo uma igreja, um sinal de
glória/
Vejo um muro branco e um vôo
pássaro/
Vejo uma grade e um velho
sinal."
Composta por Lô Borges e Fernando Brant, a "Paisagem da Janela" é traduzida em cifras pelo
mercado imobiliário paulistano.
Uma vista privilegiada, com uma
área arborizada e horizonte amplo, pode elevar o valor do imóvel
em cerca de 30%, conforme especialistas consultados pela Folha.
No mercado paulistano, as
áreas verdes e horizontes vastos
ganham importância comparável
à de uma vista para o mar em cidades litorâneas. "Até há pouco
tempo, bastava estar em andar alto para ter vista. Hoje, o importante é uma paisagem verde para
potencializar o imóvel", diz Newman Amaral Brito, diretor comercial da Schahin Engenharia.
A valorização, analisa o urbanista João Sette Whitaker Ferreira, professor de pós-graduação da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, deriva da
escassez de regiões ao mesmo
tempo aprazíveis e com boa infra-estrutura urbana.
As regiões já valorizadas, diz ele,
tendem a ver seus lotes encarecerem ainda mais. "Veja o Panamby: tem fácil acesso, infra-estrutura completa, proximidade
de centros comerciais e trechos de
mata atlântica preservada. E como é Z1 [zona estritamente residencial], não sofrerá adensamento urbano", raciocina.
Já nas áreas mais tradicionais,
como Jardins e Vila Nova Conceição, a tendência é manter "preços
em patamares bem elevados, devido à falta de áreas disponíveis
para novos empreendimentos",
complementa Amaral Brito.
Acessível à vista
A paisagem da janela pode valorizar o imóvel, mas não é privilégio de uma clientela abastada.
Entre as opções para quem procura um panorama bucólico, José
Augusto Viana Neto, presidente
do Creci-SP (Conselho Regional
dos Corretores de Imóveis de São
Paulo), cita os parques da Água
Branca (zona oeste) e da Aclimação (região central) e o Horto Florestal (zona norte), todos tradicionais da cidade.
Na Aclimação, o casal Flavia
Rodrigues, 49, e Walter Troiani,
47, possui uma vista privilegiada
para o parque. "Sempre estivemos perto do verde", conta Walter, que mora há seis anos com a
família no apartamento de 250 m2
adquirido por US$ 500 mil na
época da paridade cambial.
Bem menos luxuoso, o apartamento de 80 m2 da professora Maria Inês Nini da Luz possui vista
comparável, debruçado sobre o
lago do parque da Aclimação.
"Acordo com a luz do sol ou com
o ruído dos pássaros." O imóvel
foi comprado há oito anos por
cerca de R$ 90 mil. Atualmente,
vale R$ 140 mil, estima a dona.
Gosto para tudo
A mancha verde e o horizonte
largo, contudo, podem ser propiciados por um tipo de vizinho que
não é unanimidade: o cemitério.
Embora pareça incomodar cada
vez menos os paulistanos, esse tipo de terreno causa arrepios a alguns moradores.
Terminal de ônibus, poço interno do edifício e janelas de outras
residências são, por sua vez, vistas
frequentemente reprovadas.
As favelas e as construções precárias também não chegam a ser
um atrativo, mas, para parte dos
vizinhos, não representam grande incômodo. A dona-de-casa Tânia Korukian não teve dúvidas ao
comprar seu confortável apartamento, cuja varanda, com churrasqueira e piscina, debruça-se
sobre a favela de Paraisópolis.
Ela não está, contudo, alheia à
questão comercial. "Sabemos que
esse apartamento, se vale US$ 500
mil, valeria US$ 1 milhão com outra paisagem", pondera.
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