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diversão
Real e virtual se chocam e combinam no teatro
CONEXÕES >> Peça em Nova York visita mundo dos relacionamentos on-line
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Cheio de namoradas virtuais,
o empresário J.V. entra em pânico quando uma delas o convida para um encontro real. "É
um compromisso muito sério",
responde, afinal, para o rosto
feminino que ilumina uma das
32 telas ao seu redor.
Ele desliga a tela e conversa
com a imagem de outra namorada. "Acho que posso me apaixonar por você", diz a moça. É a
deixa para novo abandono. Em
ainda outra tela acesa, J.V. conversa com um primo que está
em Londres. "O que os tios estão aprontando?"
As cenas seriam banais se
não estivessem se passando em
frente a centenas de espectadores, em exploração máxima das
difusas relações da era virtual,
na peça "Continuous City" (cidade ininterrupta), que tem
apresentações em Nova York
até sexta-feira próxima.
Ali, a linha tênue entre o real
e o virtual encontra novos contornos não só com a tecnologia,
mas com o mundo dentro e fora
dessa cidade ininterrupta.
J.V. não existe fora do palco:
é interpretado pelo ator Rizwan Mirza. Mas muitas de suas
conversas on-line não são atuação. Mirza se conecta mesmo
com o primo londrino, além de
manter uma conversa improvisada com um sobrinho no Estado da Virgínia (EUA).
Conexões
"São realmente pessoas que
estão ao redor do mundo, e elas
se conectam de verdade durante o espetáculo", afirmou à Folha a diretora Marianne
Weems, do grupo The Builders
Association, responsável por
"Continuous City".
A tecnologia é um personagem especial do espetáculo. As
32 telas de tamanhos variados,
que projetam imagens de computadores, são controladas ao
vivo por três técnicos, perfeitamente visíveis bem no centro
do palco. Além de projeções
coordenadas, que podem ocupar um ou mais pontos, as telas
se abrem e fecham dependendo
do efeito desejado.
Segundo Weems, porém, o
uso do digital vem ao serviço da
narrativa, e não o contrário.
"Nossa idéia original era mostrar como o que entendemos
por "cidade" mudou radicalmente na última década."
Relacionamentos
A história que se desenrola
tem como pano de fundo o esforço de J.V. e seu sócio, Mike,
para divulgar um novo site de
relacionamentos, o Xubu.
É mais um momento em que
se cruza a fronteira da realidade: há realmente um site chamado Xubu, controlado pelo
Builders Association, que permite que qualquer um grave
participações (xubu.cc/about). "Em um mundo incerto, Xubu é uma família virtual.
Não deixe seus relacionamentos soltos no mundo. Traga-os
para cá", diz a página inicial.
Foram necessários dois anos
de ensaios para encontrar o
equilíbrio entre computadores,
atuação e narrativa. Ainda assim, a atração do balé das imagens em vários momentos torna as pessoas supérfluas.
Quando, por exemplo, uma babá fala para a câmera em gravação para seu videoblog, é inevitável olhar para o rosto aumentado que se projeta acima da
atriz, deixando o corpo humano em segundo plano.
O que isso diz sobre a linha
entre o real e o virtual? "Certamente há um paradoxo, tanto
na apresentação quanto no
conteúdo da peça. Não sei se a
tecnologia aproxima ou afasta", diz Weems.
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