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MODERNIDADE LITERÁRIA
Estudante traduz "Brás Cubas" para o celular
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Fernando Monteiro tem 20
anos e durante duas semanas
seu hobby foi traduzir o livro
"Memórias Póstumas de Brás
Cubas", de Machado de Assis,
para a linguagem abreviada de
celular. O ddones, como ele chama uma variação da língua portuguesa que se preza pela ausência de vogais e pelo uso, por
exemplo, do "k" no lugar do
"ca" e do "q" no lugar do "que",
foi a forma encontrada para alcançar a fama e divulgar um
clássico da literatura brasileira.
O trabalho de Monteiro pode
ser lido em brascubas.moblog.vivo.com.br. Uma pequena editora, cujo nome ele não revela, já
se interessou em publicar a versão dele sobre o livro de Machado de Assis.
Uma de suas preocupações é
enfatizar que a sua tradução não
é um resumo -apenas usa palavras mais curtas. Ele compara
o trabalho que teve com um filme em alta velocidade. "Eu não
gosto de ver o trailler, quero ver
o filme inteiro. Agora, se posso
ver o filme inteiro no modo foward e consigo entendê-lo, economizo um tempão e pego todas as idéias", diz Monteiro, que
cursa publicidade e propaganda
na FAAP, em São Paulo.
Nos dois capítulos disponíveis
no blog, não há grande diferença no número de caracteres em
relação ao original. O primeiro
capítulo, que tem 3.844 caracteres, ficou com 3.411 em ddones.
O segundo caiu ainda menos: de
1.747 para 1.700 caracteres.
Como foi feito
Para concretizar a idéia, ele
usou o moblog, um serviço oferecido no Brasil pelas operadoras Vivo e Oi!, que consiste em
um blog atualizado pelo celular.
Monteiro digitava os capítulos e
os enviava para sua caixa de e-mail como arquivos. Como não
era proveitoso usar as mensagens de texto do tipo SMS, que
comportam cerca de 150 caracteres, Monteiro usou o serviço
MMS, utilizado para enviar dados, como fotos.
Ele escrevia o texto no espaço
destinado à legenda, mas não
mandava a imagem. Foram
aproximadamente 90 mensagens de texto, ao ritmo de tradução de um capítulo por dia.
Apesar de fã da linguagem,
Monteiro acha que o ddones devem ser usados com parcimônia. "Como cada pessoa resume
as palavras de um jeito, às vezes
demoro um pouco para entender o que a minha irmã escreve", conta. "Também não dá para usar a linguagem em algo
mais formal. Já me dei mal em
uma prova por causa disso."
Além do celular, o jovem "tradutor", que gasta mais com o
envio de mensagens de texto via
celular do que com conversas
comuns, é usuário de outros
serviços de comunicação on-line, como o Skype, programa de
telefonia via internet, e do comunicador MSN Messenger.
Ele também tem uma banda
de rock que formou com um
amigo que mora em Goiânia.
Eles se falam pela rede, combinam os solos de guitarra e as batidas da bateria e, depois, Monteiro grava e mixa os sons em
um soft chamado Sonar. "Não
acreditamos quando a primeira
música ficou pronta", conta.
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