São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

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MODERNIDADE LITERÁRIA

Estudante traduz "Brás Cubas" para o celular

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Monteiro tem 20 anos e durante duas semanas seu hobby foi traduzir o livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, para a linguagem abreviada de celular. O ddones, como ele chama uma variação da língua portuguesa que se preza pela ausência de vogais e pelo uso, por exemplo, do "k" no lugar do "ca" e do "q" no lugar do "que", foi a forma encontrada para alcançar a fama e divulgar um clássico da literatura brasileira.
O trabalho de Monteiro pode ser lido em brascubas.moblog.vivo.com.br. Uma pequena editora, cujo nome ele não revela, já se interessou em publicar a versão dele sobre o livro de Machado de Assis.
Uma de suas preocupações é enfatizar que a sua tradução não é um resumo -apenas usa palavras mais curtas. Ele compara o trabalho que teve com um filme em alta velocidade. "Eu não gosto de ver o trailler, quero ver o filme inteiro. Agora, se posso ver o filme inteiro no modo foward e consigo entendê-lo, economizo um tempão e pego todas as idéias", diz Monteiro, que cursa publicidade e propaganda na FAAP, em São Paulo.
Nos dois capítulos disponíveis no blog, não há grande diferença no número de caracteres em relação ao original. O primeiro capítulo, que tem 3.844 caracteres, ficou com 3.411 em ddones. O segundo caiu ainda menos: de 1.747 para 1.700 caracteres.

Como foi feito
Para concretizar a idéia, ele usou o moblog, um serviço oferecido no Brasil pelas operadoras Vivo e Oi!, que consiste em um blog atualizado pelo celular. Monteiro digitava os capítulos e os enviava para sua caixa de e-mail como arquivos. Como não era proveitoso usar as mensagens de texto do tipo SMS, que comportam cerca de 150 caracteres, Monteiro usou o serviço MMS, utilizado para enviar dados, como fotos.
Ele escrevia o texto no espaço destinado à legenda, mas não mandava a imagem. Foram aproximadamente 90 mensagens de texto, ao ritmo de tradução de um capítulo por dia.
Apesar de fã da linguagem, Monteiro acha que o ddones devem ser usados com parcimônia. "Como cada pessoa resume as palavras de um jeito, às vezes demoro um pouco para entender o que a minha irmã escreve", conta. "Também não dá para usar a linguagem em algo mais formal. Já me dei mal em uma prova por causa disso."
Além do celular, o jovem "tradutor", que gasta mais com o envio de mensagens de texto via celular do que com conversas comuns, é usuário de outros serviços de comunicação on-line, como o Skype, programa de telefonia via internet, e do comunicador MSN Messenger.
Ele também tem uma banda de rock que formou com um amigo que mora em Goiânia. Eles se falam pela rede, combinam os solos de guitarra e as batidas da bateria e, depois, Monteiro grava e mixa os sons em um soft chamado Sonar. "Não acreditamos quando a primeira música ficou pronta", conta.


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