São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2007

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"Ofensor é inseguro", diz especialista

DA REPORTAGEM LOCAL

Tornar-se anônimo na internet ou criar um pseudônimo é a primeira providência de um troll. Para as especialistas ouvidas pela Folha, o anonimato da rede sublinha traços que as pessoas já apresentam em outras situações sociais do dia-a-dia.
Uma das especialidades dos trolls é baixar o nível de uma discussão apelando para o "bullying", termo em inglês que define intimidações ou ofensas motivadas por algum preconceito contra agredido.
"Isso acontece em escolas, no trabalho ou em locais onde uma pessoa obesa, por exemplo, sofre perseguições por parte dos colegas", afirma a psicóloga e psicoterapeuta especialista em Gestalt-terapia Rosana Zanella.
"Na internet, ocorre o mesmo, mas o agressor se aproveita do anonimato para vitimizar, perseguir e judiar de um desafeto", conclui Zanella.
A psiquiatra Vera Viveiros Sá, da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (www.sbpa.org.br), também considera o anonimato uma ferramenta para os agressores, mas vai além.
"A opinião popular reconhece a utilização do anonimato como forma de extravasar agressividade. Mas esse comportamento, a meu ver, também explicita a grande crise que estamos vivendo. Dos reality
shows aos blogs, o atual festival de singularidades exibe tudo, a oferta é grande", diz Sá.
"Por meio do politicamente incorreto, anônimos viram celebridades. Nesse universo, ofender outra pessoa pode se transformar em um artifício para ser notado", conclui.

Conseqüências
A idade média dos internautas é um dos fatores que ajudam a explicar o problema.
De acordo com números do Ibope/NetRatings, 45% dos internautas brasileiros estão na faixa entre 2 e 24 anos. São 15,9 milhões.
Os adolescentes, principais usuários das redes sociais do tipo Orkut, dos mensageiros instantâneos e dos blogs, passam por fases de auto-afirmação, em que precisam se posicionar em grupos ou tribos.
Dessa forma, aquele que ofende ou persegue uma pessoa de uma tribo rival ganharia a admiração de seus iguais.
"Os ofensores são inseguros. Com dificuldades para estabelecer contatos via afeto, eles se tornam presentes na vida dos outros por meio de suas maldades. Às vezes, pode ser essa a forma de contar ao mundo que ele existe. Pode ser a única via de expressão de seus complexos", diz Zanella.
Para a especialista, a vítima de ataques morais via internet deve obrigatoriamente procurar ajuda e denunciar seus agressores. Para não chegar a situações extremas, os pais devem conferir o comportamento dos seus filhos. (JB)


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