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COMPORTAMENTO
Grupos usam mensagens de texto para driblar bloqueios policiais e reforçar apoio em áreas estratégicas
Celular aprimora táticas de mobilizações
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Acrescente mais uma revolução
às tantas já promovidas pelo telefone celular: o aparelho acaba de
ser usado para reconfigurar a maneira de organizar e participar de
protestos públicos nos EUA,
criando as TxTmobs.
Munidos de telefones, muitos
dos ativistas que foram às ruas de
Nova York entre o fim de agosto e
o início deste mês para se manifestar contra o presidente George
W. Bush durante a Convenção
Nacional Republicana conseguiram evitar a polícia, exibir seus
cartazes para um maior número
de câmeras de TV, escolher as
melhores rotas pela cidade e até
organizar manifestações relâmpago para obter fotos mais impactantes. Tudo em tempo real e sem
precisar fazer uma ligação.
Por trás de tanta organização,
há uma tecnologia simples, já bastante conhecida -as mensagens
de texto via celular (SMS)-, e um
novo site, o TxTMob.com (o nome combina uma contração da
palavra texto, como normalmente é escrita em SMS, à palavra
multidão em inglês).
"O TxTmob na verdade é um site -nada de especial tecnologicamente- no qual você se inscreve
num grupo de interesse. Quando
alguém manda uma mensagem
de texto, todos os membros recebem", disse o brasileiro Alberto
Escarlate, 40. Diretor técnico de
uma empresa de marketing interativo em Westport (Connecticut) e blogueiro no campo do uso
social da tecnologia, Escarlate inscreveu-se no site, mas o trabalho o
impediu de participar dos protestos anti-Bush.
"As mensagens eram coisas como "tem uma câmera de TV na esquina tal filmando ao vivo; precisamos de cartazes lá", ou "a polícia
está pegando todo mundo na rua
tal", então o pessoal evitava ir
àquele local", contou. "O grupo
feminista Code Pink, no qual as
mulheres se vestem de rosa nos
protestos, mandou uma mensagem pedindo que todo mundo
fosse ao Central Park vestido de
rosa para uma fotografia aérea."
Como Escarlate, cerca de outras
6.000 pessoas se inscreveram no
site para receber ou enviar mensagens de orientação durante a
convenção. O número é bem
maior do que esperava um dos
idealizadores do projeto, John
Henry, do Instituto para Autonomia Aplicada (grupo de artistas e
programadores cuja missão auto-atribuída é "desenvolver tecnologias que sirvam à necessidade social e humana de autodeterminação). Henry usa um pseudônimo,
pois os envolvidos no projeto não
revelam nome real nem idade.
Origem
A idéia para o site surgiu pouco
antes da convenção democrata,
em julho, em Boston. Em um
mês, de cerca de 500 pessoas inscritas, o número subiu para 6.000.
"Trabalhamos perto de um grupo
de ativistas e tentamos promover
o serviço entre eles", diz.
Gratuito e livre de anúncios, o
TxTMob não tem renda e conta
com o trabalho voluntário de seus
idealizadores para se manter no
ar. Na maior parte do tempo, ele é
atualizado pelo próprio Henry,
que mantém um emprego paralelo. "Eu adoraria trabalhar em
tempo integral no site, mas não
temos dinheiro", brinca. Até as
eleições presidenciais do dia 2 de
novembro, período para o qual
estão previstos novos protestos, a
equipe deve crescer para oito pessoas -todos voluntários.
Por enquanto, é possível usar o
serviço do TxTMob nos EUA e no
Canadá. O próximo passo, diz
Henry, é expandir sua abrangência. "Tem havido interesse na Europa, e também gostaríamos de
atuar na América do Sul."
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