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TV da "nova era" está nas mãos do governo
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando teremos em casa as maravilhas da chamada televisão do
futuro, com alta definição e interatividade? Boa pergunta.
As emissoras brasileiras de TV
aberta não sabem mais o que fazer para pressionar o governo a
escolher um padrão para a transmissão digital no país, o primeiro
passo para a "nova era" televisiva.
Cercado de pressões dos três
concorrentes -norte-americano, europeu e japonês-, o Brasil
já adiou várias vezes essa decisão.
A última data fixada pela Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) -que apontará ao governo o melhor sistema- foi julho deste ano. Mas o recente pedido de demissão de Renato Guerreiro da presidência da agência,
somado à atual crise com as empresas de telecomunicação, aponta para mais uma prorrogação.
Preocupada, a Globo, em parceria com a SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão),
articulou a criação de uma emissora digital piloto (de testes), uma
maneira de aprender a lidar com a
nova tecnologia e de pressionar o
governo a fazer a escolha.
Agora, a empreitada será reunir
as outras redes em torno do projeto, o que não tem sido tão fácil, em
razão de um racha político no setor, em fevereiro deste ano.
O melhor padrão também não é
mais um consenso entre as emissoras. Até julho de 2001, o grupo
formado por Globo, SBT, Record
e Bandeirantes defendia a adoção
do japonês. A decisão tinha como
base um estudo feito pela SET e
pela Abert (Associação Brasileira
de Emissoras de Rádio e Televisão), que testaram no Brasil, entre
1999 e 2000, os três sistemas.
O japonês, concluiu o grupo,
permite transmissão móvel, ou
seja, TV em celulares, laptops,
palmtops ou aparelhos instalados
em carro, ônibus ou metrô. Isso
possibilitaria, na avaliação das redes, ampliação do mercado.
Mas o coro em favor do Japão
perdeu a Band no ano passado. O
canal passou a defender que o critério do governo ao decidir o padrão deveria ser político e econômico, e não técnico, discurso muito próximo do lobby dos EUA.
Em fevereiro deste ano, quando
Record, Band e SBT saíram da
Abert, numa clara união anti-Globo, o lobby da TV digital ficou
ainda mais sem rumo.
Assim, a emissora piloto poderá
funcionar como um campo neutro das TVs para pressionar o governo a acelerar a transição. O laboratório, administrado por uma
associação sem fins lucrativos,
poderá contar com a participação
de universidades, fabricantes de
aparelhos e qualquer interessado.
A sede será São Paulo e deve ser
usado um canal temporário em
UHF, fornecido pela Anatel.
A intenção do grupo é fazer a
primeira transmissão digital experimental em julho, mas é muito
provável que haja um atraso.
Com a dificuldade de reunir as
TVs para que o acordo seja assinado e as despesas, divididas, a
SET ainda não iniciou o processo
de importação dos transmissores
dos três padrões, o que costuma
levar até três meses. E, mesmo
quando tudo isso já estiver resolvido, o telespectador não terá
acesso a essa transmissão piloto,
porque não tem um aparelho capaz de receber o sinal digital.
Se o teste está tão enrolado, já dá
para ter uma idéia da resposta à
pergunta que abriu este texto.
Mesmo depois que o governo
(este ou o próximo) definir o padrão, ainda deve levar cerca de
um ano e meio para que as primeiras imagens digitais de nova
geração cheguem aos telespectadores.
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