São Paulo, quarta-feira, 24 de abril de 2002

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TV da "nova era" está nas mãos do governo

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando teremos em casa as maravilhas da chamada televisão do futuro, com alta definição e interatividade? Boa pergunta.
As emissoras brasileiras de TV aberta não sabem mais o que fazer para pressionar o governo a escolher um padrão para a transmissão digital no país, o primeiro passo para a "nova era" televisiva.
Cercado de pressões dos três concorrentes -norte-americano, europeu e japonês-, o Brasil já adiou várias vezes essa decisão.
A última data fixada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) -que apontará ao governo o melhor sistema- foi julho deste ano. Mas o recente pedido de demissão de Renato Guerreiro da presidência da agência, somado à atual crise com as empresas de telecomunicação, aponta para mais uma prorrogação.
Preocupada, a Globo, em parceria com a SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão), articulou a criação de uma emissora digital piloto (de testes), uma maneira de aprender a lidar com a nova tecnologia e de pressionar o governo a fazer a escolha.
Agora, a empreitada será reunir as outras redes em torno do projeto, o que não tem sido tão fácil, em razão de um racha político no setor, em fevereiro deste ano.
O melhor padrão também não é mais um consenso entre as emissoras. Até julho de 2001, o grupo formado por Globo, SBT, Record e Bandeirantes defendia a adoção do japonês. A decisão tinha como base um estudo feito pela SET e pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), que testaram no Brasil, entre 1999 e 2000, os três sistemas.
O japonês, concluiu o grupo, permite transmissão móvel, ou seja, TV em celulares, laptops, palmtops ou aparelhos instalados em carro, ônibus ou metrô. Isso possibilitaria, na avaliação das redes, ampliação do mercado.
Mas o coro em favor do Japão perdeu a Band no ano passado. O canal passou a defender que o critério do governo ao decidir o padrão deveria ser político e econômico, e não técnico, discurso muito próximo do lobby dos EUA.
Em fevereiro deste ano, quando Record, Band e SBT saíram da Abert, numa clara união anti-Globo, o lobby da TV digital ficou ainda mais sem rumo.
Assim, a emissora piloto poderá funcionar como um campo neutro das TVs para pressionar o governo a acelerar a transição. O laboratório, administrado por uma associação sem fins lucrativos, poderá contar com a participação de universidades, fabricantes de aparelhos e qualquer interessado.
A sede será São Paulo e deve ser usado um canal temporário em UHF, fornecido pela Anatel.
A intenção do grupo é fazer a primeira transmissão digital experimental em julho, mas é muito provável que haja um atraso.
Com a dificuldade de reunir as TVs para que o acordo seja assinado e as despesas, divididas, a SET ainda não iniciou o processo de importação dos transmissores dos três padrões, o que costuma levar até três meses. E, mesmo quando tudo isso já estiver resolvido, o telespectador não terá acesso a essa transmissão piloto, porque não tem um aparelho capaz de receber o sinal digital.
Se o teste está tão enrolado, já dá para ter uma idéia da resposta à pergunta que abriu este texto.
Mesmo depois que o governo (este ou o próximo) definir o padrão, ainda deve levar cerca de um ano e meio para que as primeiras imagens digitais de nova geração cheguem aos telespectadores.



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