São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTIGO
Administrador de fundos não tem bola de cristal



FABIO COLOMBO


Muitos investidores, numa mistura de desejo e ingenuidade, acreditam que os "experts" em mercado financeiro e investimentos possuem uma espécie de bola de cristal que os orienta sobre o comportamento futuro dos diversos ativos de renda variável (ações), no curto prazo.
Assim, esses "experts" teriam condições de prever os pontos mínimos de baixa e os máximos de alta das Bolsas de Valores, garantindo ao investidor acertar 100% das operações que realizar. Em tempos de grandes oscilações, como o atual, a esperança em torno dessa inexistente bola de cristal aumenta ainda mais.
E os administradores de recursos, pressionados por essa expectativa do mercado, muitas vezes acabam se travestindo de visionários, alimentando a fantasia e produzindo, fatalmente, desilusões e prejuízos.
Não convém, portanto, acreditar nessas previsões. Nossos estudos, com dados de cerca de 30 anos, demonstram que o acerto de 50% (que significa não possuir nenhum "expertise", pois, nesse caso, só há duas opções de escolha: renda fixa e renda variável) propicia um retorno histórico de 12% ao ano acima da inflação sobre o capital investido.
Descontados taxa de administração e custos transacionais, o retorno chega a 10% ou 11% ao ano.
Analisado numa perspectiva de longo prazo, esse resultado é muito bom, já que as metas atuariais dos fundos de pensão situam-se em torno de 5% e 6% ao ano acima da inflação.
Para dar uma idéia mais correta da postura que o investidor deve assumir -ou recorrer a uma imagem esportiva -, no lugar de se comportar como um corredor em pista de cem metros rasos, em que conta a grande impulsão e busca de resultados imediatos, ele deve agir como um maratonista, perseguindo objetivos consistentes, lá na frente.
Atualmente, diante da complexidade e incertezas do mercado, as pessoas tendem a se utilizar, cada vez mais, da assessoria de "experts" para orientar seus investimentos.
É importante o investidor ter consciência do que pode esperar de um "asset manager". Para tanto, faço algumas recomendações. Em primeiro lugar, não se iludir com a possibilidade de que ele indique com precisão qual será o comportamento do valor das ações. Acredite que um pequeno acerto no longo prazo é bem melhor do que um grande acerto imediato.
A transparência e diversificação de riscos também tem um papel muito importante para a segurança e alcance dos objetivos do investidor.
Por último, o "asset manager" pode lhe propiciar acesso a mercados e taxas que o investidor, por conta própria, não tem condições de alcançar. Além disso, economicamente, não compensa a ele constituir estrutura específica para esse fim.
Deve-se, portanto, entender esse "expert" como um profissional que o auxiliará a entender o cenário do mercado, e mostrará quais as alternativas possíveis dentro do perfil e objetivos de cada investidor, procurando acertar no atacado e não no varejo. E não como um mago, dotado de bola de cristal, que acena com ganhos polpudos mas que, fatalmente, produzirá prejuízos e frustrações.


Fabio Colombo é diretor de Asset Management do Credibanco DTVM



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.