São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Jorge Misumi, diretor de renda variável do HSBC Bamerindus - "Os juros devem continuar elevados até a crise diminuir no exterior. O Japão precisa reequilibrar seu sistema financeiro com uma espécie de Proer (programa de reestruturação do sistema financeiro). O sistema produtivo da Rússia está desestruturado e o presidente do país não tem força nem para empossar o primeiro-ministro. Já os Estados Unidos devem fechar o ano com o desaquecimento da economia, o que será ruim para o mundo inteiro. As reservas cambiais são a variável-chave de toda a crise, porque sua redução leva à desaceleração da economia e à consequente desvalorização dos ativos financeiros. Há boas oportunidades, no entanto, para quem tem disposição para comprar ações e apostar na valorização dos papéis no longo prazo".

Antonio Costa, sócio da Oryx Asset Management - "A crise de hoje é a continuidade daquela que teve início no ano passado, na Tailândia, e que assumiu novos contornos. É embasada pela falta de confiança nos países emergentes, o que vem provocando a saída acelerada de capitais estrangeiros e a onda de desvalorizações. Os governantes são incapazes de mostrar credibilidade. A Rússia nunca soube o que é o capitalismo, porque é impossível que, em oito anos, se destrua uma cultura de 70 anos de comunismo. Mesmo assim, os investidores foram ludibriados com uma conversa de que o país era atraente ao investidor. Com a declaração da moratória, todos perderam. Para cobrir as perdas, o Brasil paga".

Carlos Henrique Mussolini, diretor de investimentos do Itaú - "A saída para o país superar a crise é um empréstimo de algum fundo internacional, o que deve acontecer logo e se estender à América Latina. A redução das reservas cambiais chegou a níveis máximos suportáveis, o que acaba comprometendo o déficit público. O aumento das taxas de juro provocará maior pressão sobre o déficit público, porque a maior parte dele é gerada pelo pagamento de juros sobre a dívida pública. Ele é muito elevado no Brasil, devendo representar entre 6,5% e 7% do PIB em 98. O pacote fiscal seria suficiente para cobrir o pagamento dos juros da dívida apenas por dois meses. Os cortes de despesas são necessários para manter os juros elevados por um ou dois meses -tempo para que a eleição se defina a favor do governo".

Jorge Simino, diretor de renda variável da Unibanco Asset Management - "Ao tentar preservar a riqueza, as chances de o governo cometer um erro são muito altas. Qualquer solução no curto prazo deve provocar uma redução da atividade econômica no país. Nessa situação de volatilidade (oscilação), provocada pelos múltiplos focos de tensão, o investidor deve ter em mente pelo menos duas certezas. A primeira é a de que o país está em processo de destruição de riqueza e a segunda é a de que todos os ativos têm redução de rentabilidade durante a crise. Quem quer segurança deve se manter na renda fixa; quem aceita um risco maior, pode investir uma parte pequena em ações de empresas líderes de mercado".



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.