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Terapia em quadrinhos
HQs de Art Spiegelman, primeiro quadrinista
a receber
o Prêmio Pulitzer, ecoam arte
e memória
PAUL GRAVETT
Art Spiegelman, em
1979: "É difícil para
mim me concentrar
sobre o tema, porque é tão doloroso.
Mas sinto que é importante,
para mim, que eu encare esses
demônios".
Criar uma história em quadrinhos acabou saindo mais
barato que terapia para superar a sobrevivência de seus pais
ao Holocausto e sua própria sobrevivência à vida familiar.
"Maus - A História Completa" lhe tomou quase uma década, mas transformou a maneira
como as pessoas viam as histórias em quadrinhos, ou "graphic novels". Também transformou Spiegelman de cartunista de vanguarda quase desconhecido em celebridade ganhadora do Prêmio Pulitzer.
"Breakdowns" (Colapsos,
Random House, 72 págs., US$
27,50, R$ 63) é a reimpressão
de um livro de capa dura lançado em 1977, que coleciona e
amplia 13 faixas anteriores a
"Maus". Seu título sugere tanto
as crises mentais do autor
quanto os esboços preliminares de uma HQ.
Entre eles está um protótipo
de "Maus" criado quando Art
Spiegelman tinha 24 anos para
a "Funny Aminals", uma revista underground que subvertia a
inocência tradicional do gênero. Os ratos judeus, os gatos nazistas, um diagrama recortável
e a voz distinta de seu pai, todos estavam ali em forma embrionária.
Muitos outros trabalhos anteriores em "Breakdowns" revelam a propensão de Spiegelman pela experimentação, a
teorização e as citações -desde
colagens recortadas em "Malpractice Suite" até um cruzamento de Picasso com Chandler em "Ace Hole, Midget Detective". Adiantados em relação a seu tempo, esses exercícios bem informados não tiveram seu significado captado
pela maioria dos pares de Spiegelman. Hoje podem ser vistos
como antecessores da vanguarda atual.
Da mesma maneira como
nossas memórias são fluidas, as
22 vinhetas autobiográficas de
Art Spiegelman mudam no
tempo e de estilo, recriando
momentos que o formaram e o
deformaram.
Da infância vêm as alegrias
de descobrir as histórias em
quadrinhos, mais crucialmente
"Mad", de Harvey Kurtzmann,
e da criação de suas próprias; as
aulas de inadequação no playground e no beisebol, os pesadelos implantados por ter "Alice no País das Maravilhas" e as
neuroses transmitidas sutilmente por seus pais.
Tudo isso é entremeado com
cenas de sua vida adulta.
Neurótico, gênio ou as duas
coisas, Spiegelman continua a
ser analista impiedoso de si
mesmo e do meio de comunicação que adora, embora suas
histórias em quadrinhos ofereçam pouco alívio -ou resolução- a ele ou a nós.
A íntegra deste texto saiu no "Independent".
Tradução de Clara Allain.
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