São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Expressão infeliz

O sociólogo José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, diz que declaração não indica racismo às avessas

DA REDAÇÃO

Para o advogado e sociólogo José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, as declarações polêmicas da ministra Matilde Ribeiro na última terça foram uma "infelicidade de expressão".
Também coordenador da ONG Afrobrás, Vicente discorda de que as afirmações signifiquem de alguma forma um racismo às avessas.
"Eu conheço sua trajetória pessoal e política", disse. José Vicente também não concorda com o fato de as políticas de ação afirmativa estarem sendo questionadas. "O sistema de cotas é vitorioso", disse à Folha.

 


FOLHA - As declarações da ministra expressam a idéia de um racismo às avessas?
JOSÉ VINCENTE
- Não tive acesso a todo o texto da entrevista. Vi nos jornais, então não posso fazer uma análise global sobre a fala dela. Agora, acho que foi uma infelicidade de expressão.
Quem a conhece, e eu conheço sua trajetória pessoal e política, não tem dúvidas de que se tratou de um escorregão.
Acho que a frase atribuída a ela não tem essa protuberância toda de sugerir um racismo às avessas.
Pelo que eu li no jornal, acho que ela está tocando em dois pontos nevrálgicos que deveriam ser objeto de consideração.
Qual seria a reação natural de pessoas oprimidas por qualquer tipo de ação de opressores?
Teria alguma reação natural de condescendência ou de discrepância?
Qualquer um que se sinta agredido, em nenhum momento vai estar morrendo de amores pelo agressor.

FOLHA - Reportagem publicada na Folha apontou que 2.000 vagas não foram preenchidas em 9 de 15 instituições que adotam o sistema de cotas. Qual é a sua opinião?
VICENTE
- O sistema de cotas é vitorioso, mesmo com sua limitação e sua pobreza de estrutura. Se uma porcentagem das vagas não é preenchida, isso significa que temos um motivo a mais para fazer correções, para que o sistema possa cumprir integralmente seus fundamentos.
As cotas são uma medida importante de inclusão das minorias, como negros, ou oriundos das escolas públicas, mas por si só não bastam.
Como não basta, inclusive, apenas a realização do acesso ao ensino superior.
Ou seja, sem estrutura de alimentação, boa divulgação, preparação desse público e de um ambiente que não seja hostil, dificilmente esses números serão preenchidos.
Penso que a análise tem de ser feita de outra maneira. Mesmo com todas essas restrições e limitações, preencheram-se quase 80% ou 90% das vagas.
Acho que isso é um sucesso.
Se ainda há vagas sobrando, vai depender da criatividade e da capacidade de quem está coordenando isso, para criar meios e mecanismos para que as vagas sejam preenchidas.
(MS)


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