ARRIGO BARNABÉ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Eu me lembro de um livro de poemas de João Cabral de Melo Neto; era uma antologia, e havia um que me fascinava: "Uma Faca Só Lâmina", tendo como subtítulo "Serventia das Idéias Fixas". O poema é dedicado a Vinicius de Moraes e ele me acompanha há muito tempo, sempre me surpreendendo. Já cheguei até a decorar uma parte dele. A forma como ele é desenvolvido, como ele "examina" as metáforas, as possibilidades poéticas da idéia, eu acho espetacular. E cada leitura é um aprendizado, pode-se ter certeza!
E eu percebia uma tal perenidade lendo esse poema, uma sensação de grandeza do espírito humano, de abundância de beleza, de fartura mesmo que me provocava um conforto estético, um aquietamento, uma espécie de saciedade.
E ainda pode se falar de uma qualidade musical, sendo que, quando alguém lê o poema, é o responsável pela materialização da poesia, da mesma forma que um pianista, quando lê uma partitura em seu instrumento, passa a tornar reais como sonoridade aqueles sinais escritos no papel.