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Biblioteca básica
Angústia
SYLVIO BACK
ESPECIAL PARA A FOLHA
Eu queria filmar "Angústia", de Graciliano Ramos,
antes mesmo de ser cineasta. Impactado pela sua
leitura nos anos 50 e já então cinéfilo voraz, o livro
foi virando uma secreta obsessão. Quem sabe estimulado à época pela obra de Dostoiévski e pelo filme
clássico do expressionismo alemão, "O Gabinete do Dr.
Caligari" (1920), de Robert Wiene. Em ambos, fundindo
o que é com o que seria ou poderia ser, Eros é o motor da
ação. Como em "Angústia", o livro mais pessoal do "velho" Graça (1892-1953).
Sempre ficava intrigado com a ausência de "Angústia"
nas telas, enquanto os filmes homônimos seminais de
Nelson Pereira dos Santos ("Vidas Secas" e "Memórias
do Cárcere") e Leon Hirszman ("São Bernardo") faziam
bonito. Trama-valise, que alberga minicontos atemporais sem turvar o fluxo anedótico, o romance é uma história de paixão, ciúme, ódio, crime e (auto)punição, banhada de uma inédita ironia política e por uma corrosiva
ambigüidade moral. A Maceió dos 30 descrita em "Angústia", cujos baixo-relevo social e os "estados d'alma" de
tipos universais que vagueiam entre o perene, arcaico e o
moderno, tem inequívoca similaridade com o presente. E
toda ela cunhada por Graciliano Ramos com soberbos
diálogos no futuro do pretérito. Talvez aí se esconda a
resposta porque "Angústia" não teria sido filmado até
hoje. Agora, será!
Sylvio Back é cineasta, autor de "Lost Zweig", e poeta, autor de "Traduzir é Poetar às Avessas" (Memorial da América Latina).
A obra
"Angústia", de Graciliano Ramos. 336 págs., R$ 31,90. Ed. Record
(tel. 0/xx/21/2585-2000).
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