|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Muito oba-oba
O historiador militar Victor Hanson critica Obama por injetar racismo na campanha
e diz que
os 2 candidatos endurecerão
as leis de imigração
|
ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO
Falando com o sotaque
da elite pensante de
Chicago, no Centro-Norte Ocidental dos
EUA, Barack Hussein
Obama 2º a um só tempo reúne
o apelo multiétnico e a identidade aristocrática que agradam
à mídia do eixo Washington-Nova York.
Para conservadores como
Victor Davis Hanson, imprensa
e eleitores compraram a imagem e descartaram a política ao
apoiarem o democrata.
O comentarista político, associado à Hoover Institution,
diz que o líder das pesquisas de
intenção de voto é um "socialista europeu" -e que, se houvesse consciência disso, Obama não teria tanto apoio.
Para Hanson, o candidato republicano, John McCain, foi
prejudicado apenas por defender a essência da política norte-americana num momento
de baixa popularidade do atual
presidente, seu correligionário
George W. Bush.
Especialista em estudos clássicos e história militar, autor de
"Por Que o Ocidente Venceu"
(Ediouro), ele também diz, na
entrevista abaixo, que o carisma de Obama tampouco pode
ser decisivo na diplomacia norte-americana, pois as razões
sistêmicas para amarem ou
odiarem seu país continuarão
as mesmas.
FOLHA - Um governo Obama significaria uma ascensão do racismo?
VICTOR DAVIS HANSON - Vejamos
desta forma: quase ninguém estava preocupado com a raça de
Condoleezza Rice, a secretária
de Estado, quase ninguém comentou a raça do secretário de
Estado Colin Powell.
Mas, então, temos um candidato afro-americano que deliberadamente injeta o racismo
na campanha, de modo inédito.
Obama insiste em transformar a raça numa questão: ele
declarou que não se parece com
as pessoas nas notas de dólar
[ex-presidentes], disse que temia ataques racistas de seus
oponentes e se cerca de figuras
racialmente polarizadas.
FOLHA - Qualquer que seja o vencedor, o novo presidente será mais
restritivo em relação à imigração?
HANSON - Os EUA são o único
país do mundo que permite a
entrada de 1 milhão de pessoas
ilegalmente [ao ano], além de
ter o maior programa de imigração legal.
O próximo presidente terá de
lidar com o problema de que
entre 15 milhões e 20 milhões
de pessoas entraram recentemente no país sem formação,
sem falar inglês e ilegalmente,
formando uma "subclasse"
muito forte. A direita admitiu
essa classe porque é mão-de-obra barata; a esquerda a vê como público potencial para ganho político futuro.
Quem observa os dados vê
que um imigrante ilegal de 18
anos que atravessa a fronteira
mexicana é um ganho para a
economia americana até os 40,
depois geralmente passa a usar
os serviços sociais muito mais
do que contribuiu; aos 70, já é
um enorme peso financeiro.
FOLHA - Há necessidade de uma reforma urgente da imigração?
HANSON - Sim. A construção da
cerca de mil quilômetros [na
fronteira com o México] e outros controles, além de algum
desemprego, têm significado
que menos gente tem imigrado.
Se conseguirmos diminuir
para um número de 250 mil
imigrantes totais, dos quais 100
mil legalizados, privilegiando o
México e a América do Sul, então a capacidade de assimilação
funcionará como no passado.
A posição não declarada de
ambos os candidatos é fechar a
fronteira a novos imigrantes
ilegais; então, para que discutir
programas de trabalho temporário, anistia, bilingüismo?
FOLHA - Em seus artigos, o sr. afirma que os aliados europeus esperam que prossiga a liderança geopolítica dos EUA. Em meio à atual crise,
essa liderança ainda é possível?
HANSON - Eles esperam que
sim. É preciso examinar a crise
financeira em termos relativos,
não absolutos. Os EUA perderam US$ 2 trilhões, mas a
maior parte foi para outros
americanos -em outras palavras, houve perda de patrimônio com os empréstimos.
No caso da Europa, sabemos
que pode haver até o dobro disso, mas o capital está emprestado na América do Sul, na Ásia e
em partes da Europa Oriental
-isto é, não irá circular novamente na União Européia.
FOLHA - E qual será o papel do próximo presidente nessas condições?
HANSON - Psicologicamente,
depois das guerras do Iraque e
do Afeganistão e da perda de
capital, a população não irá se
dispor a ver o país assumir responsabilidades no exterior,
mesmo que, materialmente, o
país ainda esteja apto para isso.
Isso significa que, se Putin
decidir cortar as fontes de petróleo para a Europa ou se o Irã
anunciar que criará armas nucleares, o presidente Obama irá
à ONU pedir que os aliados participem [da reação] ou pedirá a
aliados regionais que intervenham.
Nada me convenceu, nos últimos 20 anos, de que essa
abordagem funcionaria.
Gostem ou não, a maioria das
pessoas já adotou um padrão de
comportamento em que espera
que os EUA tenham um postura de liderança. Criticam, mas,
secretamente, esperam que os
EUA façam isso -como depor
Saddam Hussein ou Slobodan
Milosevic, lidar com a Coréia
do Norte ou Gaddafi.
FOLHA - O sr. critica os ataques da
mídia contra Sarah Palin (vice na
chapa de McCain). O tratamento é
mais injusto com ela do que com Joe
Biden (vice de Obama)?
HANSON - Certamente. Sabemos tudo sobre Palin: quanto
gasta em roupas, a gravidez de
sua filha, o filho com síndrome
de Down. Mesmo assim ela foi
reduzida a uma mulher "do mato". Mas não se fala nada a respeito de Biden.
Vemos um desdém aristocrático por ela, entre conservadores e democratas, por ser de
classe média, com o sotaque da
classe média da Costa Oeste.
FOLHA - Economicamente, Obama
será ruim para o Brasil?
HANSON - O mundo se surpreenderá se Obama assumir a
Presidência. Sua política comercial deve deixar os sul-americanos preocupados: ele ressuscitará tarifas protecionistas
para setores ineficientes.
Já McCain disse que não entende como taxamos nossos
aliados -como os brasileiros-
e deixamos o petróleo de nossos rivais entrar no país sem tarifa nenhuma.
Texto Anterior: Cá entre nós Próximo Texto: Vidas reais: "A eleição não é sobre negritude" Índice
|