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Em "Cem Anos de Teatro em São Paulo", Sábato Magaldi e Maria Thereza Vargas fazem um retrospecto imprescindível do teatro paulista desde o final do século 19 até os anos 70
Um palco em ebulição
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As atrizes Lélia Abramo e Cacilda Becker em cena da peça "Raízes", em 1961, escrita por Arnold Wesker |
Sergio Viotti
especial para a Folha
Em um dos seus sonetos Shakespeare fala da união sincera de almas sinceras. Quando isso acontece, daí advém o positivo e o belo.
Foi o que aconteceu quando Sábato Magaldi e Maria Thereza Vargas juntaram
aplicações e cultura para escrever, nos
idos de 1975, a retrospectiva do que havia
sido o teatro em São Paulo (de 1875 a
1974).
O trabalho resultou em quatro suplementos para o centenário do jornal "O
Estado de S. Paulo". Maria Thereza Vargas trabalhara no Idart (Departamento
de Informação e Documentação Artística) na qualidade de pesquisadora; Sábato Magaldi, membro da Academia Brasileira de Letras, um dos nossos mais conceituados críticos teatrais, é autor de várias obras teóricas sobre teatro. O material original publicado nos suplementos,
analisado e ampliado pelos autores, tornou-se o volume "Cem Anos de Teatro
em São Paulo".
O que torna esta obra imprescindível
para o estudo e conhecimento (não só do
teatro em São Paulo, mas do teatro brasileiro como um todo) é o cuidadoso relato
do que era visto nesta capital desde que a
Companhia Lírico-Dramática Espanhola de Zarzuelas por aqui passou em 1875.
Daí, segue relembrando nomes hoje lamentavelmente esquecidos do grande
público, mesmo dos que frequentam
teatro. Que, entre nós, os artistas de ontem repousam em honroso esquecimento mesmo que nos tenham deixado em
nosso tempo. Quem hoje com menos de
50 anos se dá conta de que reinou entre
nós a grande Cacilda Becker, prematuramente morta em 1969?
Visão detalhada Assim um dos
maiores valores deste volume é, justamente, o fato de trazer ao primeiro plano
o remoto, o antes de ontem e o ontem,
oferecendo ao leitor de hoje e, espero, do
futuro uma visão detalhada do que foi
realizado em São Paulo e por quem. Uma
obra como esta não é impressa apenas
para os leitores do início do século 21,
mas para ser lida no futuro longínquo.
Seu objetivo é continuar imortalizando
artistas e trabalhos que a memória descuidada do tempo esgarçou.
Quando todos os nossos
centros culturais regionais levarem a cabo um
trabalho semelhante, aí
então teremos o panorama completo da história
do teatro brasileiro.
Não se pode esperar que
uma obra desse vulto seja
completa na cobertura de
todos os acontecimentos, mesmo em se
tratando de alguns de relativo destaque.
Se o fizessem, os autores correriam o risco de produzir um volume em que a sequência de datas, nomes e eventos seria
apenas repetição enfadonha sem novas
luzes. O objetivo foi, justamente, evocar e
reordenar recordações (e preciosas informações) que, na memória de muitos,
possam parecer confusas. Que a grande
importância do livro de referência é precisamente colocar o passado ao alcance
de quem o procura em busca de esclarecimentos precisos.
Houve época em que São Paulo só assistia a espetáculos teatrais que aqui chegavam vindos do Rio, centro propagador, ou do exterior, até que nos primeiros anos da década de 40 conjuntos amadores lançaram os alicerces do autêntico
teatro paulista -o Grupo de Teatro Experimental de Alfredo Mesquita; o Grupo Universitário de Teatro de Decio de
Almeida Prado; Os Artistas Amadores
de Madalena Nicol e os
English Players de R.H.
Eagling.
Eles formaram a base do
que seria, logo depois, o
Teatro Brasileiro de Comédia, o renomado TBC,
criado pelo empresário
Franco Zampari.
O volume é farta e ricamente ilustrado com 152 páginas das
mais belas e históricas fotografias. Apenas essas bastariam para nos dar uma visão exata, de inegável beleza, do que foi o
teatro em São Paulo inicialmente e genuinamente paulista a partir do advento
do TBC. Para os que tiveram o privilégio
de acompanhar essas montagens, as fotos agitam saudades.
Os que não as viram passam a ter uma
visão do que foram aqueles tempos em
que o teatro paulista se formou como
força criadora, principalmente na ebulição política dos anos 60, crescendo a força dos teatros Arena e Oficina. Se foram
anos difíceis, também foram anos mágicos. Sem eles o teatro brasileiro, não apenas o teatro paulista, não seria o que é,
pois este agora ocupava a posição que lhe
cabia por direito no panorama nacional.
Um sábio posfácio nos garante (o que é
mais do que simples promessa) que,
"com a concordância da editora", os autores deverão "escrever um segundo volume, já que o número de estréias nas últimas décadas cresceu enormemente
(...)". O que levará este precioso panorama do teatro paulista até o ano 2000. Fecha-se, assim, um círculo de ouro. Sem
isso a história do teatro brasileiro nunca
estaria completa.
Sergio Viotti é ator e autor de "Dulcina e o Teatro
de Seu Tempo" (ed. Lacerda).
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