São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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Biblioteca básica

Poeta em Nova York

RÉGIS BONVICINO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O meu livro predileto é "Poeta em Nova York", de Federico Garcia Lorca, escrito em 1929 e 1930, quando ele era estudante na Universidade Columbia. Acrescento: o meu "livro" mais amado é "Obra Poética Completa", de Lorca. Por que o "Poeta em Nova York"? Porque Lorca é um poeta transgressivo. A transgressão está vinculada à capacidade de análise e de crítica de um autor e de uma obra e à sua capacidade de encantar, de permanecer viva e misteriosa para além de seu aspecto mais racional e dedutível. No "Poeta em Nova York", há o choque entre uma sensibilidade católica e uma realidade protestante, o choque entre o rural e o urbano, o "conflito entre a luz e o vento", para me valer de um verso do próprio poeta. Há nele também um testemunho: o da crise de 1929, paradigmática dos tempos modernos. E o encontro da mais refinada tradição ibérica com a vertente de inovação da poesia norte-americana (Whalt Whitman, Hart Crane). Na conferência que proferiu, quando da primeira leitura pública do poema, em Barcelona (se não me engano), em 1932, Lorca dizia, de forma profética: "Y hoy no tengo más espectáculo que una poesia amarga". Poesia amarga, que flagrou "o diretor do banco observando o manômetro / que mede o cruel silêncio da moeda".


Régis Bonvicino é poeta, autor, entre outros, de "Remorso do Cosmos" (Ateliê) e co-diretor, ao lado de Alcir Pécora, da revista "Sibila".

A obra
"Poeta em Nova York", de Federico Garcia Lorca. Tradução de Renato Tapado. 202 págs., R$ 35. Ed. Letras Contemporâneas (tel. 0/xx/48/223-0945).


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