|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Biblioteca básica
Poeta em Nova York
RÉGIS BONVICINO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O
meu livro predileto é "Poeta em Nova York",
de Federico Garcia Lorca, escrito em 1929 e
1930, quando ele era estudante na Universidade
Columbia. Acrescento: o meu "livro" mais
amado é "Obra Poética Completa", de Lorca. Por que o
"Poeta em Nova York"? Porque Lorca é um poeta transgressivo. A transgressão está vinculada à capacidade de
análise e de crítica de um autor e de uma obra e à sua capacidade de encantar, de permanecer viva e misteriosa
para além de seu aspecto mais racional e dedutível. No
"Poeta em Nova York", há o choque entre uma sensibilidade católica e uma realidade protestante, o choque entre
o rural e o urbano, o "conflito entre a luz e o vento", para
me valer de um verso do próprio poeta. Há nele também
um testemunho: o da crise de 1929, paradigmática dos
tempos modernos. E o encontro da mais refinada tradição ibérica com a vertente de inovação da poesia norte-americana (Whalt Whitman, Hart Crane). Na conferência que proferiu, quando da primeira leitura pública do
poema, em Barcelona (se não me engano), em 1932, Lorca dizia, de forma profética: "Y hoy no tengo más espectáculo que una poesia amarga". Poesia amarga, que flagrou "o diretor do banco observando o manômetro / que
mede o cruel silêncio da moeda".
Régis Bonvicino é poeta, autor, entre outros, de "Remorso do Cosmos" (Ateliê) e co-diretor, ao lado de Alcir Pécora, da revista "Sibila".
A obra
"Poeta em Nova York", de Federico Garcia Lorca. Tradução de Renato Tapado. 202 págs., R$ 35. Ed. Letras Contemporâneas (tel.
0/xx/48/223-0945).
Texto Anterior: Ponto de fuga - Jorge Coli: Trem fantasma Próximo Texto: + autores: Heidegger, filósofo judeu? Índice
|