São Paulo, domingo, 05 de fevereiro de 2006

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Biblioteca básica

A Língua Exilada

GABRIEL VILLELA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não quero falar especificamente de um romance ou de um livro de contos, mas de "A Língua Exilada". Uma coletânea de ensaios, discursos e conferências do escritor húngaro Imre Kertész (1929), incluindo o texto proferido quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 2002.
O livro dá continuidade à estirpe de grandes pensadores, independentemente da escolha de gênero literário, atentos à falência do homem como cultura, à idéia de civilização como um projeto desesperançoso. Chama a atenção pela contundência dos relatos sobre Auschwitz, para onde Kertész foi deportado aos 15 anos, o que lhe causou impressões que são a base de toda sua obra.
O que me impressiona em seus relatos, além da contundência dos textos, é sua perplexidade em ter de continuar vivo após Auschwitz e a forma como diz que a humanidade coloca o campo de concentração como apenas um impasse entre duas ou três nações em guerra, e não como um problema da humanidade.
Enquanto a humanidade e a civilização moderna não tomarem consciência de que esse é um impasse do homem diante do homem, uma questão intricada na própria cadeia de DNA, não haverá solução para elas, que vão continuar repetindo essa problemática, mudando a geografia, deslocando o foco de uma motivação para a outra, mas dando continuidade ao projeto de extinção.


Gabriel Villela é diretor teatral e está em cartaz em São Paulo com a peça "Esperando Godot", de Samuel Beckett.

A obra
"A Língua Exilada", de Imre Kertész. Trad. Paulo Schiller. 214 págs., R$ 38. Companhia das Letras (tel. 0/xx/ 11/3707-3500).


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