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Biblioteca básica
A Língua Exilada
GABRIEL VILLELA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não quero falar especificamente de um romance
ou de um livro de contos, mas de "A Língua
Exilada". Uma coletânea de ensaios, discursos e
conferências do escritor húngaro Imre Kertész
(1929), incluindo o texto proferido quando recebeu o
Prêmio Nobel de Literatura, em 2002.
O livro dá continuidade à estirpe de grandes pensadores, independentemente da escolha de gênero literário,
atentos à falência do homem como cultura, à idéia de civilização como um projeto desesperançoso. Chama a
atenção pela contundência dos relatos sobre Auschwitz,
para onde Kertész foi deportado aos 15 anos, o que lhe
causou impressões que são a base de toda sua obra.
O que me impressiona em seus relatos, além da contundência dos textos, é sua perplexidade em ter de continuar vivo após Auschwitz e a forma como diz que a humanidade coloca o campo de concentração como apenas
um impasse entre duas ou três nações em guerra, e não
como um problema da humanidade.
Enquanto a humanidade e a civilização moderna não
tomarem consciência de que esse é um impasse do homem diante do homem, uma questão intricada na própria cadeia de DNA, não haverá solução para elas, que
vão continuar repetindo essa problemática, mudando a
geografia, deslocando o foco de uma motivação para a
outra, mas dando continuidade ao projeto de extinção.
Gabriel Villela é diretor teatral e está em cartaz em São Paulo com a
peça "Esperando Godot", de Samuel Beckett.
A obra
"A Língua Exilada", de Imre Kertész. Trad. Paulo Schiller. 214
págs., R$ 38. Companhia das Letras (tel. 0/xx/ 11/3707-3500).
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