UOL


São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

+ gilbertobraguianas por Barbara Gancia

As novelas de Gilberto Braga sempre têm lances comuns, que são marca registrada do autor:

Arrivismo legitimado - Casar para subir na vida não é expediente de heroína que se preze? Bobagem. Em "Dancin" Days", apesar de apaixonada pelo diplomata arrependido Cacá (Antonio Fagundes), Júlia Matos (Sônia Braga) aceita se casar com o ricaço Ubirajara (Ary Fontoura). Maria de Fátima (Glória Pires), um dos personagens principais de "Vale Tudo", odeia a pobreza e acha que qualquer método para subir na vida é lícito. Por exemplo, vender a única propriedade da família -a casa onde mora sua mãe- e fugir com o dinheiro.

Vingança é comida congelada - Em "Louco Amor", Luiz Carlos (Fábio Jr.) é o filho da empregada do embaixador, pai de Patrícia (Bruna Lombardi). Ele ama Patricinha, mas a mãe dela proíbe o namoro. Na festa de 17 anos da filha, para afastar o pé-rapado, a embaixatriz o escala para estacionar os carros dos convidados. Revoltado, ele solta os cachorros (literalmente), que invadem a festa e atacam o dono da casa. Em "O Dono do Mundo", desvirginada pelo cirurgião plástico Felipe Barreto (Antonio Fagundes), a professorinha Márcia (Malu Mader) consegue mandá-lo para a prisão.

Viradas de mesa espetaculares - A ex-presidiária Julia Matos (Sônia Braga) se casa com Ary Fontoura e vai morar na Europa. Na volta, é a mulher mais descolada do Rio de Janeiro e acaba fazendo o Brasil inteiro aderir ao lurex e ao hábito peculiar de usar meias "rede de pesca" com sandália. Em "O Dono do Mundo", Raquel Accioly (Regina Duarte), enganada pela própria filha, ressurge das cinzas como empresária. E a alcoólatra Heleninha (Renata Sorrah) larga a manguaça, se reergue e também vira "business woman".

Sangue não é água - Quem não se lembra da cena antológica em que as irmãs Julia Matos (Sônia Braga) e Yolanda Pratini (Joana Fomm) fazem as pazes em "Dancin" Days", depois de passar a novela inteira às turras? Em "Vale Tudo", Raquel Accioly e a filha Maria de Fátima também atam e desatam.

"Gosford Park" - Se o serviçal não transar com o patrão, não é novela de Gilberto Braga. Nas suas crônicas de costume, a classe média costuma ir ao paraíso e os pobres acabam sempre nos melhores salões da cidade. Em "Louco Amor", Renata Dumont (Tereza Raquel) é contra os casamentos de seus familiares com pessoas de classes sociais inferiores. Só na sua família, lida com o romance entre sua filha e o filho da empregada (Bruna Lombardi e Fábio Jr.), da jornalista pobretona Cláudia (Glória Pires) com seu filho Lipe (Lauro Corona) e de seu cunhado (José Lewgoy) com a manicure Gisela (Lady Francisco).

Abaixo o maniqueísmo - Nos folhetins de Gilberto Braga, ninguém é totalmente vilão ou mocinho. O cirurgião plástico Felipe Barreto, de "O Dono do Mundo", é charmoso e bem-sucedido, mas egoísta e ambicioso. Aposta com um amigo que vai tirar a virgindade da noiva de um funcionário antes do casamento e ganha a aposta. Depois de todas as falcatruas, Maria de Fátima, em "Vale Tudo", não é punida. Termina a novela se casando com um príncipe italiano. Na mesma novela, depois de dar um grande golpe, Marco Aurélio (Reginaldo Farias) sai de cena dando uma banana para as câmeras.

Jorginho Guinle - Em "Água Viva", Nélson Fragonard é um falido que finge ser rico. Stela Simpson (Tônia Carrero) é outra aparente milionária que faz de tudo para esconder a penúria de seu saldo bancário.

Perguntas que não querem calar - Sempre rola alguma, como: quem matou Miguel Fragonard? Quem matou Odete Roitman?.

Chique no último - Gilberto Braga é um dos poucos autores de novela que sabem de cor e salteado como os ricos se portam na vida real. Tanto é que introduziu em seus dramas consultorias para ensinar os atores a agir e se vestir como a grã-finada.

Brasil, mostra a tua cara - Entre os temas recorrentes do autor estão a corrupção e o jeitinho brasileiro. Será que podemos esperar, em "Celebridade", que ele traga à tona temas como a doação de jóias caninas para campanhas do governo ou o dinheiro enviado para fora do país por empresários de futebol?


Texto Anterior: O dia que o Brasil esqueceu
Próximo Texto: Os limites do melodrama
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.