|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
+ Política
Mundo, vasto mundo
O analista Walter Russell Mead fala do futuro das relações externas dos EUA depois das eleições legislativas, na terça
MARCOS STRECKER
DA REDAÇÃO
Membro do influente Council
on Foreign Relations, instituição que ajuda a estabelecer a política externa dos EUA, o norte-americano Walter Russell Mead acaba de lançar no Brasil "Poder,
Terror, Paz e Guerra" (ed. Jorge Zahar, trad. Bárbara Duarte,
248 págs., R$ 41), em que analisa os desafios atuais da política
externa americana.
Colaborador de várias publicações nos EUA, como os jornais "Los Angeles Times" e
"The New York Times", ele comenta a seguir as possíveis mudanças nos EUA decorrentes
das eleições legislativas norte-americanas.
Elas ocorrem depois de amanhã, em meio ao descontentamento crescente em relação ao
governo do presidente George
W. Bush. Mead -que diz que a
opinião pública do país não
acredita mais na democratização do Iraque- defende o futuro muro na fronteira com o
México e afirma que só a morte
do ditador cubano Fidel Castro
pode trazer turbulências à
América Latina.
FOLHA - O que muda com a provável vitória dos democratas nas eleições legislativas de terça-feira?
WALTER RUSSELL MEAD - Os democratas vão controlar uma das
casas do Congresso, possivelmente as duas. Se controlarem
a Câmara, haverá relativamente pouco impacto. Se também
controlarem o Senado, poderão
bloquear a indicação de juízes
pelo presidente Bush e influenciar em investigações e audiências importantes.
Mas essas eleições serão
muito menos importantes do
que as de 2008 [presidenciais].
FOLHA - Que mudanças podem
acontecer em relação ao Brasil e à
América Latina?
RUSSELL MEAD - Vejo poucos sinais de mudança em relação à
América Latina, mesmo com as
eleições. Uma instabilidade em
Cuba na seqüência da eventual
morte de Fidel poderia provocar uma crise. Fora isso, não vejo outras possibilidades de
transformação no curto prazo.
FOLHA - O presidente recém-eleito
do México, Felipe Calderón, diz que
os EUA cometeram um "grave erro"
ao planejar a construção do muro
separando os dois países, comparando-o ao Muro de Berlim. Como ficará a política dos EUA em relação
aos imigrantes hispânicos?
RUSSELL MEAD - O Muro de Berlim foi feito para evitar que as
pessoas saíssem. O muro na
fronteira dos EUA é para evitar
que os imigrantes entrem. É
uma grande diferença. Todo
país tem o direito de proteger
suas fronteiras contra a imigração ilegal.
O próprio México guarda sua
fronteira sul com métodos bem
duros. Gostaria de assistir, no
longo prazo, a um movimento
de liberalização do fluxo de
mão-de-obra no Ocidente.
FOLHA - O sr. apoiou a Guerra do
Iraque em 2003. A sociedade americana ainda acredita que o país vai
conseguir a democratização do
Oriente Médio?
RUSSELL MEAD - Pessoalmente,
nunca acreditei que o Iraque
poderia rapidamente se tornar
uma democracia. Apoiei a guerra. Mas acho que hoje é difícil
atingir mesmo os objetivos
mais modestos, que, no entanto, poderiam beneficiar tanto o
povo do Iraque quanto o da região. Apesar disso, os EUA ainda têm responsabilidades na
região, e acho que precipitar a
retirada não seria sábio.
A opinião pública nos EUA
esperava havia três anos que a
democracia pudesse ser estabelecida no Oriente Médio. Hoje já não há mais essa esperança. Isso não quer dizer que há
apoio generalizado nos EUA
para que o país se retire da região -embora haja muito descontentamento com a política
do governo Bush, especialmente no Iraque.
FOLHA - O terrorismo está mais
forte ou mais fraco do que em setembro de 2001?
RUSSELL MEAD - Difícil dizer.
Acho que alguns grupos terroristas estão muito menos efetivos. Pois a perda de santuários
no Afeganistão, os problemas
que há hoje com viagens e financiamentos assim como a
maior cooperação dos países
na área de inteligência tornaram mais difícil a ação dos terroristas fora do Oriente Médio.
No Iraque, é outra história.
FOLHA - A política externa do Brasil
ainda é orientada para a reivindicação de um assento permanente em
um Conselho de Segurança da ONU
reformado. É uma política sábia?
RUSSELL MEAD - Apóio a reivindicação brasileira de um assento
permanente no Conselho de
Segurança. Parece, infelizmente, que hoje há muito pouca
energia sendo despendida na
reforma do conselho.
Texto Anterior: + Mídia: Colunas, bombas e cigarros Próximo Texto: + Autores: Teatro da violência Índice
|