São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

+ Política

Mundo, vasto mundo

O analista Walter Russell Mead fala do futuro das relações externas dos EUA depois das eleições legislativas, na terça

MARCOS STRECKER
DA REDAÇÃO

Membro do influente Council on Foreign Relations, instituição que ajuda a estabelecer a política externa dos EUA, o norte-americano Walter Russell Mead acaba de lançar no Brasil "Poder, Terror, Paz e Guerra" (ed. Jorge Zahar, trad. Bárbara Duarte, 248 págs., R$ 41), em que analisa os desafios atuais da política externa americana.
Colaborador de várias publicações nos EUA, como os jornais "Los Angeles Times" e "The New York Times", ele comenta a seguir as possíveis mudanças nos EUA decorrentes das eleições legislativas norte-americanas.
Elas ocorrem depois de amanhã, em meio ao descontentamento crescente em relação ao governo do presidente George W. Bush. Mead -que diz que a opinião pública do país não acredita mais na democratização do Iraque- defende o futuro muro na fronteira com o México e afirma que só a morte do ditador cubano Fidel Castro pode trazer turbulências à América Latina.

 

FOLHA - O que muda com a provável vitória dos democratas nas eleições legislativas de terça-feira?
WALTER RUSSELL MEAD
- Os democratas vão controlar uma das casas do Congresso, possivelmente as duas. Se controlarem a Câmara, haverá relativamente pouco impacto. Se também controlarem o Senado, poderão bloquear a indicação de juízes pelo presidente Bush e influenciar em investigações e audiências importantes. Mas essas eleições serão muito menos importantes do que as de 2008 [presidenciais].

FOLHA - Que mudanças podem acontecer em relação ao Brasil e à América Latina?
RUSSELL MEAD
- Vejo poucos sinais de mudança em relação à América Latina, mesmo com as eleições. Uma instabilidade em Cuba na seqüência da eventual morte de Fidel poderia provocar uma crise. Fora isso, não vejo outras possibilidades de transformação no curto prazo.

FOLHA - O presidente recém-eleito do México, Felipe Calderón, diz que os EUA cometeram um "grave erro" ao planejar a construção do muro separando os dois países, comparando-o ao Muro de Berlim. Como ficará a política dos EUA em relação aos imigrantes hispânicos?
RUSSELL MEAD
- O Muro de Berlim foi feito para evitar que as pessoas saíssem. O muro na fronteira dos EUA é para evitar que os imigrantes entrem. É uma grande diferença. Todo país tem o direito de proteger suas fronteiras contra a imigração ilegal. O próprio México guarda sua
fronteira sul com métodos bem duros. Gostaria de assistir, no longo prazo, a um movimento de liberalização do fluxo de mão-de-obra no Ocidente.

FOLHA - O sr. apoiou a Guerra do Iraque em 2003. A sociedade americana ainda acredita que o país vai conseguir a democratização do Oriente Médio?
RUSSELL MEAD
- Pessoalmente, nunca acreditei que o Iraque poderia rapidamente se tornar uma democracia. Apoiei a guerra. Mas acho que hoje é difícil atingir mesmo os objetivos mais modestos, que, no entanto, poderiam beneficiar tanto o povo do Iraque quanto o da região. Apesar disso, os EUA ainda têm responsabilidades na região, e acho que precipitar a retirada não seria sábio.
A opinião pública nos EUA esperava havia três anos que a democracia pudesse ser estabelecida no Oriente Médio. Hoje já não há mais essa esperança. Isso não quer dizer que há apoio generalizado nos EUA para que o país se retire da região -embora haja muito descontentamento com a política do governo Bush, especialmente no Iraque.

FOLHA - O terrorismo está mais forte ou mais fraco do que em setembro de 2001?
RUSSELL MEAD
- Difícil dizer. Acho que alguns grupos terroristas estão muito menos efetivos. Pois a perda de santuários no Afeganistão, os problemas que há hoje com viagens e financiamentos assim como a maior cooperação dos países na área de inteligência tornaram mais difícil a ação dos terroristas fora do Oriente Médio. No Iraque, é outra história.

FOLHA - A política externa do Brasil ainda é orientada para a reivindicação de um assento permanente em um Conselho de Segurança da ONU reformado. É uma política sábia?
RUSSELL MEAD
- Apóio a reivindicação brasileira de um assento permanente no Conselho de Segurança. Parece, infelizmente, que hoje há muito pouca energia sendo despendida na reforma do conselho.


Texto Anterior: + Mídia: Colunas, bombas e cigarros
Próximo Texto: + Autores: Teatro da violência
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.