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"Poesia Visual, Vídeo Poesia" estuda obras feitas em computador da USP
A arte acelerada
CRISTINA FONSECA
especial para a Folha
O livro "Poesia Visual, Vídeo
Poesia", de Ricardo Araújo, trata
das experiências desenvolvidas
no LSI (Laboratório de Sistemas
Integráveis da Escola Politécnica
da USP), em 1993, para produzir,
ineditamente, naquele sistema de
sofisticadíssimos computadores,
uma lista de sete poemas em videoarte. A saber: "Bomba" e
"SOS", de Augusto de Campos,
"Parafísica", de Haroldo de Campos, "Femme",
de Décio Pignatari, "Dentro", de Arnaldo Antunes, e
"O Arco-Íris
no Ar Curvo",
de Júlio Plaza.
Trata-se de um
registro do
evento, mas
não é esse seu
único valor.
Uma das questões importantes do
livro, que vem à tona com os valiosos depoimentos de seus participantes, é a relação arte/ciências
e criação.
Seria de se esperar que a obra
suscitasse tal temática, pois não
vem de hoje o namoro da arte e da
literatura com a ciência como sintoma de modernidade. Pode-se
apostar que o modernismo no
Brasil não despontou com a arte,
mas, como ocorreu na Europa de
1910, foi desencadeado pela ciência: impulsionado pela descobertado microscópio e o desenvolvimento da medicina experimental
de Luís de Pasteur, representada
no Brasil por Oswaldo Cruz e o
grupo de saneadores, como Adolfo Lutz e Carlos Chagas. Os filmes
e fotos desses cientistas, trazidos
das viagens por todo o país, além
de suas idéias inovadoras, que desideologizavam a medicina -mostrando que miséria
é problema social, e não de
raça e cor- ,
revelaram o
Brasil para o
próprio Brasil.
A obra de Ricardo Araújo
traz à tona um
fenômeno muito importante, que
vem ocorrendo clandestinamente
no "silêncio dos computadores e
dos laboratórios", como bem definiu José Mindlin, que é o encontro da literatura e da arte com as
novas tecnologias. Trata-se de um
movimento experimental que
tem encontrado resistência para
florescer, pois modificará, a curto
prazo, o próprio conceito de cinema e TV e, ao mesmo tempo, parece dar continuidade e veracidade ao próprio fenômeno da poesia concreta no Brasil.
O livro de Ricardo Araújo faz
lembrar que a poesia concreta,
desde o seu início, em 1954, tem
apregoado a utilização de inéditos
meios e materiais como suporte
para a poesia. Então, não é por
acaso que um projeto como esse,
da engenharia da USP, tenha o
signo dos concretistas e seus companheiros. Os trabalhos verbivocovisuais dos "Noigandres" se
ajustam absolutamente às novas
mídias: do holograma à multimídia e multimeios, passando rapidamente para o sistema de computação em 3D. Mas isso não prova, como propõe Ricardo Araújo,
o pioneirismo deles no fenômeno
da computação gráfica, já que esse evento, anterior ao projeto da
USP, tem sido como "um furacão
clandestino" dentro dos estúdios
improvisados dos videomakers.
Poderia citar nomes como o do já
morto Paulo Rebesco, gênio da
computação gráfica, ou mesmo
Carlos Henrique Sartori, que há
muito tempo criaram maravilhas
altamente sofisticados, mas que
têm passado despercebidas aos
olhos vulgares e atrasados dos
nossos sinistros críticos de TV.
A OBRA
Poesia Visual, Vídeo Poesia - Ricardo Araújo. Perspectiva
(av. Brigadeiro Luís Antônio,
3.025, CEP 01401-000, SP, tel. 0/
xx/11/885-8388). 178 págs., R$
18,00.
Cristina Fonseca é escritora e jornalista, autora de, entre outros, "A Poesia do Acaso"
(T.A Queiroz), além de roteirista e diretora de
documentários para cinema e TV.
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