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A explosão do imponderável
SHEILA GRECCO
da Redação
O mais recente livro de João Batista Melo atesta a maturidade literária de uma prosa de tendências introspectivas. "Um Pouco
Mais de Swing", que reúne contos
inéditos e os já publicados em sua
obra de estréia, "O Inventor de
Estrelas" (1989), explora as fronteiras do supra-realismo.
Em 15 histórias, heróis trágicos
convivem com as limitações diante do imponderável. Situações absurdas unem os contos. Uma velhinha de uma cidade de solo pobre e árido faz beldades de barro
em miniaturas e pensa viver nessa
escultura. Segredos e cadáveres se
escondem sob os assoalhos de um
casarão. A poeira misteriosa de
um pacato vilarejo transforma
seus habitantes em estátuas.
João Batista Melo dialoga com
uma linhagem da literatura que
tece um realismo peculiar, o construído a partir de situações fantásticas. O pioneiro dessa tendência
no Brasil foi Murilo Rubião, na
década de 40. Abordagem que foi
retomada nos anos 60 por José J.
Veiga, Campos de Carvalho e
Moacyr Scliar e atualmente Modesto Carone.
O irreal é pretexto para tratar do
real. A prosa do autor busca ultrapassar o realismo de convenção
por meio de recursos do expressionismo e surrealismo. A denúncia do homem de nossa época
aparece aqui e ali, seja pelo funcionário público e seu objetivo de
estabilidade inútil, seja pelo dono
de escola que mantém seus negócios na base da troca de favores
com o prefeito ou pelo retrato implacável da imbecilidade da burguesia paulistana. O banal ganha
visadas macabras. No conto que
dá título à obra, o autor nos leva
para Nova Orleans. A música
exerce poder central e reconciliador das dores que assolam as personagens.
A prosa do novo livro de João
Batista Melo o afasta do pendor
verboso e em certos momentos
antiliterário do romance de aventuras "Patagônia" (1998). Mas a
opção por reeditar contos de estréia torna "Um Pouco Mais de
Swing" um livro em tom descendente. Os contos menos convincentes estão justamente na segunda parte e é justamente nela que se
verificam os perigosos mergulhos
na ficção científica -tática já utilizada sem sucesso em algumas histórias
de seu livro de
contos anterior, "As Baleias de Saguenay" (1996). "O
Inventor de Estrelas" narra o
desejo de um
escritor de partir numa nave
espacial, em pleno século 21, com
todo o vapor da tecnologia brasileira e do inverossímil "Ministério
do Espaço".
Não se pode fechar os olhos
também para os deslizes gramaticais: "Mas não sei porque (sic) as
abelhas me recordam papai. Afinal, restringiria-se aos finais de
semana aquele cenário povoado
de vôos" (pág. 27), "os tiros que
vinham do (sic) trás do muro"
(pág. 49), que prejudicam o ritmo
e a estética.
É certo que a coletânea apresenta irregularidades, mas, no seu todo, a força narrativa de "Um
Pouco Mais de
Swing" vem
reaquecer esse
gênero tão menosprezado
entre nós, o
conto. O que
não é pouco
dentro das dificuldades da
atual literatura
brasileira. E, como diria Cortázar,
se o que caracteriza a grandeza de
um conto é o seu caráter incisivo,
mordente, sem trégua desde as
primeiras páginas, João Batista
Melo vence o leitor pelo nocaute.
A OBRA
Um Pouco Mais de Swing -
João Batista Melo. Rocco (r. Rodrigo Silva, 26, CEP 20011-040, RJ, tel.
0/xx/21/507-2000). 140 págs. R$
19,00.
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