São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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Atração e repulsa

WALTER SALLES
ESPECIAL PARA A FOLHA

U m triângulo amoroso. T, jornalista de 37 anos, sente-se estrangeiro no seu próprio mundo. S, jovem antropólogo, também. Uma mulher de 22 anos que "ama sem saber como" é o elo de ligação entre esses dois homens que se desconhecem. Os temas que definem o cinema de Antonioni afloram em "Tecnicamente Doce". A alienação e a desumanização trazidas por meios de produção cada vez mais massificados. A oposição entre o mundo "civilizado" e o estado "selvagem". A impossibilidade amorosa.
Um estado de insatisfação latente vai conduzir T e S, personagens aparentemente opostos, na mesma direção. Ambos abandonam a Sardenha (Itália) para se perderem no coração da selva amazônica. A aridez em oposição à umidade. Ao longe, uma outra miragem: Brasília, "feita de vidro e concreto". Antonioni escreveu o roteiro com seu companheiro Tonino Guerra e Mark Peploe, com quem viria a colaborar em "Profissão: Repórter".
Veio ao Brasil, fez locações na selva amazônica e em Brasília. Teve uma relação de atração e de repulsa pelo que viu. O resultado é um dos roteiros mais rascantes e radicais que Antonioni criou. O diretor disse que queria fazer esse filme "mais do que qualquer outro". Chegou a definir toda a equipe técnica e escolher os atores: Jack Nicholson e Maria Schneider. Nunca conseguiu filmar. Pouco antes da rodagem, o produtor Carlo Ponti retirou o financiamento.
Frustrado pela experiência, Antonioni retomou os temas do filme que nunca viria a realizar no Brasil em "Profissão: Repórter". Ambos começam e acabam da mesma maneira: pelo desconforto de um homem em crise de identidade e pela inevitabilidade da morte.


WALTER SALLES, 51, é cineasta. Dirigiu "Terra Estrangeira", "Central do Brasil" e "Diários de Motocicleta", entre outros filmes; atualmente finaliza "Linha de Passe" e trabalha em "On the Road", ambos ainda sem estréia prevista.


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