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Atração e repulsa
WALTER SALLES
ESPECIAL PARA A FOLHA
U
m triângulo amoroso. T, jornalista
de 37 anos, sente-se estrangeiro no
seu próprio mundo. S, jovem antropólogo, também. Uma mulher de 22 anos
que "ama sem saber como" é o
elo de ligação entre esses dois
homens que se desconhecem.
Os temas que definem o cinema de Antonioni afloram em
"Tecnicamente Doce". A alienação e a desumanização trazidas por meios de produção cada vez mais massificados. A
oposição entre o mundo "civilizado" e o estado "selvagem". A
impossibilidade amorosa.
Um estado de insatisfação latente vai conduzir T e S, personagens aparentemente opostos, na mesma direção.
Ambos abandonam a Sardenha (Itália) para se perderem
no coração da selva amazônica.
A aridez em oposição à umidade. Ao longe, uma outra miragem: Brasília, "feita de vidro e
concreto".
Antonioni escreveu o roteiro
com seu companheiro Tonino
Guerra e Mark Peploe, com
quem viria a colaborar em
"Profissão: Repórter".
Veio ao Brasil, fez locações
na selva amazônica e em Brasília. Teve uma relação de atração e de repulsa pelo que viu. O
resultado é um dos roteiros
mais rascantes e radicais que
Antonioni criou.
O diretor disse que queria fazer esse filme "mais do que
qualquer outro". Chegou a definir toda a equipe técnica e escolher os atores: Jack Nicholson e Maria Schneider. Nunca
conseguiu filmar. Pouco antes
da rodagem, o produtor Carlo
Ponti retirou o financiamento.
Frustrado pela experiência,
Antonioni retomou os temas
do filme que nunca viria a realizar no Brasil em "Profissão:
Repórter".
Ambos começam e acabam
da mesma maneira: pelo desconforto de um homem em crise de identidade e pela inevitabilidade da morte.
WALTER SALLES, 51, é cineasta. Dirigiu "Terra
Estrangeira", "Central do Brasil" e "Diários de
Motocicleta", entre outros filmes; atualmente
finaliza "Linha de Passe" e trabalha em "On the
Road", ambos ainda sem estréia prevista.
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