São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

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Crise e catástrofe natural

Discussão sobre a recorrência dos ciclos econômicos ou o fim da história dividiu pensadores

BORIS FAUSTO
COLUNISTA DA FOLHA

As crises do sistema econômico, admitidos seus terríveis efeitos, correspondem a uma época fascinante de experiências e de reflexão.
Diante delas, tendemos a acreditar que os ciclos da economia, contrastando crescimento eufórico e estagnação recessiva, são características incontornáveis do sistema capitalista. Não por acaso, numa crise como a atual, ganham relevância as metáforas inspiradas nas catástrofes da natureza, como ocorre na referência ao "tsunami" financeiro -uma onda gigantesca que, no seu ímpeto, atinge corações, mentes e bolsos.

Ação humana
Na realidade, as crises são produto da ação humana, com a significativa ressalva de que nascem no interior de um complexo sistema econômico e de instituições criadas com um considerável grau de autonomia, a exemplo do aprendiz de feiticeiro cuja invenção ganha vida própria e acaba se lançando contra o inventor.
A afirmação da inevitabilidade das crises aflora quando elas ocorrem e tende a ser esquecida, nas fases de relativa estabilidade, ou de euforia, no âmbito do sistema financeiro mundial.
Há não muito tempo, presumíveis sábios, na sua leitura do mundo, garantiam que os desastres globais da economia capitalista eram coisa do passado.
O decantado "fim da história", com o triunfo definitivo do capitalismo e do ideário liberal, traria nele embutida a confortante certeza de que as crises traumáticas teriam sido superadas para sempre.

Crença ingênua
O pensamento marxista e correntes afins, a partir de uma análise séria das entranhas do sistema capitalista, sustentam a inevitabilidade das crises, como elemento constitutivo da chamada lógica do sistema.
Da análise marxista brotou uma crença ingênua, algo como o outro lado da moeda da tese liberal do fim da história. Era, ou ainda é, a crença de que a sucessão de crises culminaria numa ruptura terminal, marcando o fim do capitalismo e a emergência do socialismo revolucionário.
Se o sistema capitalista certamente desaparecerá no futuro, dando lugar a novas estruturas socioeconômicas, estamos muito longe de saber como se dará esse processo e que estruturas serão essas.
Olhando para a conjuntura atual, não há nem sequer uma potência dita socialista, como a União Soviética, que seja um contraponto ao campo dos países democráticos. Emergindo impetuosamente, há a China, caracterizada pela implantação de um surpreendente capitalismo autoritário.
Se pensarmos nas grandes


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