São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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De "ornamental" a "ki-suco de framboesa", obra é atacada pelos críticos

Agnaldo Farias
(curador do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo)
"A confluência entre o excelente trabalho de marketing -divulgar em altos brados a presença em coleções tão importantes como a de Bill Clinton e Silvester Stallone faz grande efeito em gente facilmente impressionável- e a natureza decorativa e agradável do seu trabalho -próximo do "ki-suco" de framboesa, uma suave diluição de poéticas pop, a começar por Lichtenstein, muito ao gosto do quarto de crianças e sandálias de dedo- explica o sucesso de Britto."

Fernando Cocchiarale
(curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro)
"Atribuo o "sucesso" dele ao sucesso que a mídia brasileira noticiou que ele fazia nos EUA. Foram citados nomes de celebridades políticas e do show business como colecionadores de Britto. Não sei as razões que o levaram (se é que é verdade... Talvez o tenham tomado como um mangá exótico dos trópicos... Sei lá. Eles também são muito cafonas) a fazer sucesso nos EUA, mas aqui foi por um fascínio mimético pelo Primeiro Mundo cultivado pelas elites brasileiras."

Luiz Camillo Osório
(crítico e curador)
"Sucesso de venda é algo que exige competência, não traduz necessariamente qualidade artística (ou falta dela). Não tenho nada a dizer sobre o sucesso das pinturas dele, mas não gosto delas, acho um trabalho fácil -diferentemente da boa arte, que é simples, mas não é fácil. Se for para ficar no campo da pintura, prefiro defender a obra de Eduardo Sued, Carlos Vergara, Cristina Canale ou Paulo Pasta."

Cristiana Tejo
(curadora da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife)
"Por se tratar de algo ornamental, o trabalho de Britto fica bem em caixas de sabão, sandálias e cadernos, pois algumas estampas são realmente "bonitas". Mas como a arte deixou de ser algo destinado ao deleite estético simplesmente e passou a ser um questionamento do que é arte e de seus limites, seu trabalho se presta perfeitamente a enfeitar, mas não nos traz nenhuma crítica ou mesmo reflexão."

Rafael Campos Rocha
(crítico de arte do Centro Cultural São Paulo)
"A prática artística é complexa. Exige conhecimento tanto da tradição quanto do contexto contemporâneo cultural e artístico. Agregar uma mídia nova de forma acrítica não acrescenta nada não só à arte como à técnica empregada.
No caso dos construtivistas, que tinham uma postura de anti-arte que era, na verdade, anticonservadora, foi diferente. Eles queriam acabar com todas as esferas idealistas autônomas e previlegiadas. Coisa que eu não acho que uma loja nos Jardins [bairro de SP em que fica a loja de Romero Britto] queira, mesmo porque, que me conste, o que Britto e outros artistas querem é vender utensílio doméstico a preço de arte, não o contrário." (JM)


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