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O jargão incompreensível
O físico
Alan Sokal relembra
seu ataque bombástico aos pós-modernos,
11 anos atrás
DA REDAÇÃO
E
m 1996, o físico americano Alan Sokal provocou uma enorme
turbulência no meio
intelectual, sobretudo
entre os chamados pós-modernos, ao pregar uma peça na revista "Social Text".
Ele enviou à revista de ciências humanas -afinadas com
essa linha teórica- um texto
sem pé nem cabeça, mas que se
servia de um pesado linguajar
acadêmico, a começar pelo título: "Atravessando as Fronteiras - Em Direção a uma Hermenêutica Transformativa de
Gravidade Quântica".
Seu objetivo era provar que
obras de autores como Gilles
Deleuze, Félix Guattari e Julia
Kristeva eram pouco rigorosas,
além de todos, segundo Sokal,
serem avessos à possibilidade
de alcançar um conhecimento
objetivo das coisas.
Meses depois, revelaria o
embuste, que acabaria por desenvolver no livro "Imposturas
Intelectuais" (ed. Record), escrito em parceria com o também físico Jean Bricmont.
Onze anos depois da celeuma, Sokal fala à Folha sobre o
que mudou desde então e compara os "estilos" de Baudrillard, Deleuze e Kristeva.
(MARCOS FLAMÍNIO PERES)
FOLHA - Como o sr. avalia o caso
"Social Text", passados 11 anos? O
que mudou hoje?
ALAN SOKAL - Acredito que o escândalo em torno da publicação de meu artigo paródico na
"Social Text" -e, mais tarde, a
publicação de meu livro "Imposturas Intelectuais", em co-autoria com Jean Bricmont-,
teve um efeito salutar, pois estimulou o debate sobre o abuso
do jargão por alguns pós-modernistas proeminentes.
Estudantes e professores não
ficam mais intimidados em dizer "não entendo isso. O que de
fato isso significa?".
FOLHA - O que o sr. critica na obra e
nos textos de Baudrillard?
SOKAL - Muitos dos textos dele
são escritos em um estilo pomposo que parece ser profundo,
mas cujo significado preciso
(no caso de haver algum) está
longe de ser claro.
Bricmont e eu concluímos
nossa análise dos abusos de
Baudrillard afirmando que "se
encontram nas obras dele uma
profusão de termos científicos,
usados com displicência em relação a seus significados, e, acima de tudo, em um contexto
em que são claramente irrelevantes. [...] Além disso, a terminologia científica vem misturada com um vocabulário não-científico, que é empregado
com igual falta de rigor".
FOLHA - Em que Baudrillard comete imposturas? Eram melhores ou
piores que as de Deleuze e Kristeva?
SOKAL - As imposturas são de
vários tipos, então é difícil estabelecer uma ranking unidimensional de acordo com o
"grau de impostura".
Baudrillard escreve sentenças pomposas repletas de terminologia supostamente científica, que são ao mesmo tempo
banalidades travestidas de profundidades e totalmente sem
sentido.
O estilo de Deleuze é similar,
mas com a pretensão de ser
uma profunda contribuição à
filosofia.
O estilo de Kristeva é menos
frenético, mas ela intimida seu
leitor com fatos altamente técnicos tirados da teoria ou análise matemáticas -que, posteriormente, se mostram irrelevantes para os temas (por
exemplo, a linguagem poética).
FOLHA - A "invasão" de pensadores franceses, como Baudrillard,
sempre foi vista com restrição em alguns círculos acadêmicos dos EUA. O
sr. se coloca entre eles?
SOKAL - Para mim, as idéias
não têm nacionalidade. Boas
idéias devem ser aceitas não
importa de onde venham; más
idéias devem ser rejeitadas, não
importa de onde venham.
A nacionalidade de um autor
é irrelevante.
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