São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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No Brasil, juros agravam endividamento

ERNANE GUIMARÃES NETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mesmo não sendo um país de cultura tão consumista quanto os EUA, o Brasil tem seus problemas de endividamento agravados pelo fato de dívidas menores representarem um fardo maior para o consumidor, dizem os consultores financeiros ouvidos pela Folha.
Segundo Álvaro Musa, o endividamento com o crédito em geral, incluindo financiamento com bens duráveis, é da ordem de duas remunerações mensais médias, enquanto nos EUA é comum o consumidor ultrapassar seis vezes o valor de seu salário em dívidas acumuladas. "A grande diferença entre Brasil e EUA é que lá os juros do cartão de crédito são de 12% ao ano, e aqui, 12% ao mês", acrescenta o também consultor Mauro Halfeld.
O Brasil também tem um componente histórico recente a estimular o consumismo: a passagem de um cenário de inflação anual de três dígitos para uma relativa estabilidade monetária, lembra Musa. Mas a combinação de incentivo ao endividamento com altas taxas de juro pode ter ultrapassado seu limite: "O estímulo [ao endividamento] e a taxa de juros estão acima do que seria o ponto ótimo, o que acaba matando a galinha dos ovos de ouro, isto é, o consumidor", diz Halfeld.
Cita ainda a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo IBGE, segundo a qual os 10% mais ricos da população brasileira perderam 20% do poder de compra nos últimos 14 anos. "Essas pessoas, que têm um piso de aproximadamente R$ 1.500, estão perdendo muito dinheiro para tentar manter a pose. Exceto os milionários, que vivem de juros, essas pessoas se endividam a juros muito altos."
Para ele, há a prevalência da cultura da aparência -ter um carro novo, mesmo que implique problemas a médio prazo- sobre a cultura da poupança. "O problema maior é com a nova geração, de menos de 30 anos, já criada no sistema de crédito fácil. Poucos conseguem adotar o hábito de juntar o dinheiro antes de comprar."


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